terça-feira, 5 de novembro de 2013

AINDA SOBRE A FAZENDA MONTE CRISTO

      Voltemos à MONTE CRISTO. Em primeiro lugar, necessário dizer que, conforme costumo afirmar, acontece em BICAS e arredores o mesmo que no PÉRIGORD de nossos bisavós. De onde a gente menos espera, "brota" um "primo", ainda que por afinidade... Ainda que bem distante... Aqueles que leram meu livro devem se lembrar de que uma das pessoas que mereceu meu especial agradecimento foi meu tio SEBASTIÃO DE SOUZA MARTINS. Marido de minha tia THEREZINHA MAYRINK MARTINS. A FAZENDA MONTE CRISTO, infelizmente, não é "encontrável" sem um guia que conheça bem a região. Digamos que, por lá, todos conhecem. Não é de lá? Esqueça... Sinalização zero. Até porque, como estamos "carecas" de saber, pouco restava da fazenda desde que lá estive, em 2008. Eu me lembrava vagamente que meu tio tinha ligações com MARIPÁ, mas sempre achei que ele fosse originário de SÃO JOÃO NEPOMUCENO, visto serem de lá muitos membros de sua família. Como ele é amante de um bom forró, de uma boa pescaria e de uma boa conversa, acabou acumulando, em mais de 80 anos, muito conhecimento e informação. Um dia, num bate papo informal, eu falei que precisava encontrar uma certa fazenda MONTE CRISTO e, naquele instante, fiquei sabendo que ele não só conhecia o rumo como eram por lá as terras de seu avô paterno, e onde seus avós maternos, imigrantes italianos, vieram "dar com os costados". Como nossos franceses e tantos outros. Então foi só acertar o dia e foi ele, meu querido tio SEBASTIÃO, que nos levou, a mim e à minha família, ao encontro dos últimos vestígios da casa da fazenda. No mais, pastagens e o onipresente açude do mesmo nome.
         Naquela ocasião, tiramos as fotografias que hoje ilustram meu livro (capa e interior) e que você pode encontrar aqui mesmo no blog. Vestígios. Quase nada. Mas que me calaram fundo na alma. 
         LEONARDO ROCHA, na época Secretário de Cultura de MARIPÁ, foi o primeiro a me falar que já havia visto ao menos uma foto da casa, anos atrás. Mas nunca cheguei a encontrá-las. Até aparecer FABRÍCIO.
        Pelo FACEBOOK e aqui pelo blog, ele fez alguns contactos notificando-me sobre a posse de duas antigas fotografias de muito má qualidade. Dali em diante foi só estabelecer um contacto mais frequente e esclarecedor. Que hoje divido com vocês.
        E antes que eu esqueça: sim! FABRÍCIO MARTINS é aparentado do meu tio SEBASTIÃO... E conhece MARIPÁ e MONTE CRISTO de uma forma que não admite contestações: com a alma. Com interesse desenfreado. Pelo qual só temos a agradecer.
       
       Sobre as fotos, ele nos informa que datam de 1916 e foram extraídas de uma publicação de um jornalista francês ou italiano, fato que ele não sabe precisar. O que ele tinha consigo era apenas uma cópia xerox das ilustrações da dita publicação. E o que me enviou por e-mail eram "xerox do xerox". Portanto, considero explicada a péssima qualidade das fotos. Mas desafio a alguém encontrar uma melhor!! Com certeza ficaremos igualmente agradecidos! 

       À partir de agora, adicionarei trechos dos e-mails de FABRÍCIO e, se julgar oportuno, tecerei os devidos comentários:


"Lamento ter restado tão pouco dessa residência por onde passaram nossos patriarcas e palco de muita história, que até hoje é cercada de tantas lendas: a represa, as características europeias, as grandes senzalas, pinturas... 
Moro em um sitio que antes pertencia à fazenda, e da mesma família do Sebastião Martins. Cresci ouvindo as mais diversas historias do Comendador Firmino e dessa fazenda, sempre cercada de grande misticismo. Desde então venho garimpando um pouco dessa historia nas horas vagas. Ao conhecer o seu livro fiquei encantado com tanta informação reunida e tudo que sonhava descobrir sobre o com. Firmino".

"Outro fato curioso é a existência de um mapa e de um livro encapado (com pele "humana", mas creio que seja exagero) escrito pelo comendador, que conta toda historia da fazenda e tudo de importante que acontecia, contando inclusive o fato de que todo o material teria sido trazido da França".

     Nesse trecho, fica bem clara a importância que a fazenda MONTE CRISTO teve e tem no imaginário do povo da região. O mapa existe pois FABRÍCIO já teve oportunidade de vê-lo quando criança, embora não saiba onde foi parar... Parece que o mesmo (como vamos ver mais à frente) esclarecia de forma definitiva a posição da MONTE CRISTO em relação a outras fazendas de importância fundamental, como a SANTANNA e a SANTA CLARA. Esperemos um dia poder reencontrá-lo. Hoje penso que tudo é possível. Já sobre o livro, ele deixa claro que pode haver exagero. E isso me confirma cada dia mais que essa não foi uma fazenda comum. E comum não foram seus proprietários. Um deles ao menos, o COMENDADOR FIRMIN FRANÇOIS ALIBERT... sabemos que não o foi. Mas quem pode deixar de sonhar com a maravilha que seria confirmar a existência de um livro/diário com toda a história da fazenda? Afirmando inclusive que o material para a sua construção (considerando-se aí mais um pouquinho ao menos de exagero...) teria sido trazido da FRANÇA? É possível que mapa, livro e alguns poucos objetos ainda esteja na posse da família do último  proprietário da fazenda, falecido a não muito tempo. Lembro-me de ter publicado aqui mesmo no blog, recentemente, o anúncio para a venda da fazenda... Queira Deus que essas relíquias históricas não se percam nas mãos de qualquer desinteressado. Não seria justo com uma memória de tanto suor. E de tanto sangue.


       "As fazendas das quais  falei são:
Fazenda Santa Ana ou Santana (?) ,margem da BR 267 divisa de Maripa e Argirita. Pertencia ao coronel Arruda, a historia da asa delta do Fued é verdade, já tinha ouvido do pessoal de lá; dizem também que era uma pessoa muito má e que furou o olho do empregado com uma agulha. A fazenda pertenceu também a Bertholdo Machado (da minha família) e sua foto já foi publicada em um livro didático.
Fazenda Vitoria ( da Tereza, margem 267 entre sta Ana e Serra da Prata), no município de Argirita, tenho fotos mas não estão aqui.
Santa Rita ( do Afonso), localizada na estrada entre as fazendas Vitoria e Santa Clara, é uma bela fazenda...
e Santa Clara (da Dalizette), bem ao lado do Monte Cristo, na estrada entre Santa Rita e Monte Cristo. Dizem que o dono (*foto) morreu apunhalado nas escadas da fazenda quando ia chicotear um empregado ou escravo(?)  Pertece ao municipeo de Senador Cortes".

   
         Nesse trecho, FABRÍCIO desenvolve uma ideia para a qual utiliza um termo muito interessante: FAZENDAS DESCENDENTES. Com isso, ele tenta qualificar as fazendas que teriam surgido, todas, da primeira e enorme propriedade original, do COMENDADOR JOAQUIM JOSÉ GONÇALVES DE MORAES (MONTE CRISTO), por meio de venda ou herança. Exatamente como sempre imaginei! Se pudéssemos ter acesso ao registro de imóveis das cidades compreendidas por essa antiga e enorme Fazenda ( sesmaria?), poderíamos quem sabe falar com total propriedade...
       Meu parecer é de que o "miolo", a "nata", que incluía a casa grande, seus anexos, o açude, etc... foram adquiridos por FIRMIN FRANÇOIS ALIBERT. E o restante das terras foi dividido, num primeiro momento, entre as filhas do COMENDADOR MORAES. ALIBERT perdeu a MONTE CRISTO para o marido de uma de suas sobrinhas (o ANTÕNIO COSTA da legenda da Foto 2). E as outras fazendas tiveram cada qual seu destino, que nunca me dispus a acompanhar. 
      Comecei a chegar a essa conclusão a muito tempo, quando descobrí a relação do CORONEL ARRUDA CÂMARA (propietário da FAZENDA SANTANNA), com o comendador MORAES. Mas nem sequer imaginava que o mesmo se dava com todas as grandes fazendas das redondezas. Todas "fazendas descendentes", como bem nomeou FABRÍCIO.
PS: Segundo o que diz o povo da região, a herdeira da fazenda SANTANA não teria sido RITOCA, esposa de ARRUDA CÃMARA, e sim ANA. Quanto a isso, minhas pesquisas são claras à favor de RITOCA. Necessário pesquisar mais uma vez a genealogia do COMENDADOR MORAES, que pode ser encontrada on-line, apenas para conferir se RITOCA (Rita) também não poderia ser ANA (ANA RITA?). Talvez eu a publique aqui nos próximos dias, para facilitar para todos vocês).
     Outra informação de grande importância de FABRÍCIO é o nome de todos os proprietários da FAZENDA MONTE CRISTO  até hoje:
1- JOAQUIM JOSÉ GONÇALVES DE MORAES
2- FIRMIN FRANÇOIS ALIBERT
3- ANTÔNIO S.COSTA
4- MANOEL FERREIRA DE SOUZA (ou NEZIM FERREIRA)
5- FRANCISCO FERREIRA
6- Após isso a fazenda teria saído das mãos de originais da região. Não tenho mais informações sobre nomes de proprietários.



        Para concluir esse post que já se alonga demais, uma delícia de supresa. Sempre se soube, em minha família, que meus avós MERITA e EVARISTO passaram sua lua de mel na FAZENDA SANTA CLARA. Durante toda minha vida ignorei o fato, tão corriqueiro naqueles tempos, de viajar para fazendas amigas. Não esqueçamos que os pais dos dois eram fazendeiros em CARLOS ALVES, antiga SANTA BÁRBARA DO RIO NOVO.  Quando iniciei minhas pesquisas, e soube que a SANTA CLARA era "pros lados de MARIPÁ", não entendi nada. Porque? Qual a ligação da família com as fazendas "daquelas bandas"? Por fotos de familia encontradas aos poucos, também testemunhei a ligação dos DOUSSEAU GUILHERMINO com a família de BERTHOLDO MACHADO, dono da FAZENDA SANTANNA. Hoje, justapondo todo meu arquivo de informações com as novas contribuições de FABRÍCIO, não tenho dúvidas (falei também sobre isso em meu livro), de que, se há um ponto em comum que liga a família DOUSSEAU com todas essas fazendas, mesmo após décadas e décadas... essa ligação se chama ALIBERT. Ainda que eu desconhecesse seu nome até 2006. Mesmo que este tenha sido eclipsado quase que totalmente em seus últimos anos de vida (o que também é surpreendente e fascinante...), aquelas que FABRÍCIO chamou de "fazendas descendentes" estiveram ligadas à vida dos DOUSSEAU até as décadas de 30/40 do século XX. O que dá cerca de 50 anos de ligação estreita. Até que o tempo fizesse seu papel de "apagador de todos os rastros". Percebemos que, quando o tempo passa mas a terra se mantém na família, a memória não morre. Mas quando, somado à ação inclemente do tempo temos os revezes econômicos e a desvalorização da vida no campo, forçando à venda e ao abandono definitivo das propriedades familiares... aí a História chora... definha... E quase desaparece.
          Cabe a nós não permitir que ela se perca total e definitivamente.
          FABRÍCIO reconhece ser possível, quando as férias chegarem, alcançar mais informações sobre tudo isso. E aguardaremos ansiosamente, não é? 
          Como "brinde", presenteado por ele, a FAZENDA SANTA CLARA, tão cara para mim. Afinal, foi nela, como já disse, que meus avós MERITA e EVARISTO passaram sua lua-de-mel. Último vínculo com a história truncada dos franceses vindos no ORENOQUE.
        



                                                                               



    



                                                                                                     

2 comentários:

  1. Achei isso aí Marly,

    "Uma fazenda que destacava-se era do “Monte Cristo”, cognominada - “Paraíso Guararense” - que produz de tudo que atire ao seio de suas terras. Fazenda esta fundada pelo comendador Firmino François Alibert, e hoje de propriedade do Sr. Vicente Alves Pereira.
    Esta fazenda, além de muitos outros pontos aprazíveis e pitorescos que existem no município, possui um belíssimo açude, repleto de uma abundante variedade de aves aquáticas e onde se encontram botes para passeio e de onde se descortina um dos mais lindos panoramas do município. (O Guarará, 14 de julho de 1929)

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  2. Que maravilha, Francisco! Você teria o recorte dessa notícia? Gostaria demais de publicá-la nas documentos antigos! Muito obrigada por ser para mim fonte inesgotável de boa vontade! Abraço!

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