domingo, 22 de outubro de 2017

     

Bom dia, amigos leitores!

       Como vocês bem sabem, sempre fui leitora inveterada do Jornal 'O MUNICÍPIO", de Bicas. Há algum tempo, ele deixou de ser publicado no formato original, em papel. E chegou ao mundo virtual. Desde essa ocasião, confesso que não o havia visitado. Mas como sempre é tempo de corrigir nossas falhas, eis que, durante a semana que passou, cliquei sobre um link publicado por JOSÉ ARNALDO, um dos colunistas, no grupo do Facebook chamado 'MINEIROS DE BICAS". Conclusão: nunca mais o largarei. Subitamente me dei conta do quanto andava com saudade de tudo, principalmente das publicações de JOSÉ LUÍS MACHADO RODRIGUES, o LUJA, que tanto enriquece aqueles que se interessam por aprofundar-se na história genealógica de nossa região. Dentre tantas pérolas, encontrei essa. LUJA tem um veio de poeta ou de "um não sei que" que encanta na maneira como descreve fatos já até conhecidos, mas não tão "pressentidos" como nos é possível através de sua fala. Nesse texto estamos, é claro num tempo anterior a "grande vinda" de imigrantes estrangeiros não lusos, como por exemplos nossos DOUSSEAU. Estamos nos primórdios do povoamento de nosso pequeno naco de ZONA DA MATA, sendo desbravado pelos desencantados do ouro. Leiam. Saboreiem. E vejam se não tenho razão. 



 Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer" Fernando Pessoa
       Do desembarque no porto do Rio de Janeiro até suas terras no leste mineiro eram léguas de caminhada em lombo de burro ou, à pé. E a Aldeia de destino não ficava no meio do oceano, como convinha a naturais de um arquipélago. Não tinha mar de biquínis “vestindo?” mulheres bonitas. Não tinha sungas em corpos sarados, nem barracas de praia e barracos na grimpa dos morros para atrair turistas. Ela era apenas um “meio do mato”. Era parte da Zona da Mata. Mas esta Aldeia atraiu descendentes de imigrantes provenientes das Ilhas dos Açores. É bem verdade que perto dela, à moda dos poetas até “inventaram” um Mar de Espanha que, de verdade, também faz parte desta história por ter sido sede da vila que administrava as coisas da Aldeia. Mas este “galho” do assunto tem que ficar para outro artigo, por uma questão de espaço. Da Aldeia da qual se fala é correto dizer que era cercada por montes. E às sequências dos mais altos os habitantes e os que por ali passavam resolveram denominá-las: Serra das Bicas e Serra do Rochedo. Destas serras, de algum ponto imaginário e com binóculo possante, talvez fosse possível avistar, para os lados de Belo Horizonte, um distante horizonte de relevo e vegetação variada a se fechar nos altos contrafortes da Serra da Mantiqueira. Nestes contrafortes se poderia imaginar ver, então, a primeira sede da Aldeia. A vila mãe que administrava a porção maior e mais antiga do domínio territorial desta região da Mata. A antiga Vila de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo, que segundo Waldemar de Almeida Barbosa no seu Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais, é a atual Barbacena, “a primeira povoação das Minas, vindo do Rio de Janeiro”. Nas encostas da serra chamada Bicas, nas proximidades do que se tornou a Aldeia à qual esta história quer chegar, nascia água limpinha, que se bebia em folha de inhame ou, na concha da mão. Não era água tratada pela COPASA, mas limpa o suficiente para tratar da sede e fadiga causada pela lida constante e pelas aventureiras viagens. E cultivaram-se grandes roças. Uma delas, inclusive, adotou o nome de Roça Grande. Ali, a poder da enxada e de rústicas técnicas tirava-se da terra o milho e outros alimentos como arroz, feijão, cana, abóbora, inhame e o mais possível para abastecer os tropeiros que vinham e voltavam às Minas Gerais. E por ali viveram alguns descendentes de açorianos como os FERREIRA DA FONSECA, dos quais nesta série de artigos O Município se ocupa. Uma gente muito bem definida por Oswaldo Rezende, em Genealogia dos Resendes, São Paulo (SP), 1974, Editora Revista dos Tribunais, página 31, quando afirma “não ser segredo para ninguém que os açorianos que se estabeleceram na província das Minas Gerais eram simples e humildes, e vieram com o propósito muito natural de novas condições de vida, embalados pela tradição de que aqui enriqueceriam facilmente.” Nada muito diferente dos Ferreira da Fonseca que desbravaram terras de Maripá de Minas, Guarará e Bicas. Homens fortes que cultivaram estas terras num tempo em que, nas noites escuras, o céu da Aldeia oferecia apenas estrelas e astros para orientar as viagens. Um tempo no qual não existia o ronco e as luzes dos aviões de carreira que encurtam saudades e as longas distâncias. Nem os satélites fabricados para refletirem imagens e sons em tempo real. E nem gente deitada na relva ou na esteira tecida com a folha de Taboa, a viajar em visões dos dias atuais: – este avião que se imagina seguir na direção do Norte ou Nordeste, deve estar levando as alegrias dos que seguem em viagem à Europa. Aquele outro, em sentido inverso, talvez traga as alegrias de quem volta para casa. Ou será o oposto o verdadeiro sentido das alegrias e dos viajantes ? Nestas noites, contar as estrelas no céu da Aldeia não era tarefa difícil. Mas também não era o programa dos aldeões, porque poucos se davam conta da importância do contar, fazer as quatro contas, ler e escrever. Muitos, porque se ocupavam com tarefas que dispensavam este aprender. Outros, porque se ocupavam com tantos afazeres que não lhes sobravam tempo para contá-las. Mas é certo que os que ali chegaram para morar, o fizeram depois que o ouro de aluvião, abundante na areia dos rios do centro da Província, começou a escassear. A busca do mineral nos veios do subsolo, com as ferramentas e a mão de obra disponíveis, tornou-se quase impossível. Então, parte dos que viviam da atividade tomou o rumo da Mata. Embrenhou pela mata proibida para buscar a nova riqueza, o café. E aqui, aprendeu a tomar leite in natura, saído de teta da vaca para a caneca com açúcar batido (mascavo, para agradar ao corretor de texto). A comer feijão tropeiro, couve, taioba, angu, broa de milho e rapadura, como se verá noutra ocasião porque, por hoje, o ponto final desta história precisa ser aqui."

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

FAMÍLIA MANDRAL BARBOSA

Boa tarde a todos!

       Conforme prometido, hoje vamos falar de uma parte de nossa família da qual a existência nos era desconhecida. Até hoje me pergunto como isso pode ter ocorrido. Provavelmente ficaremos sem saber, visto que todos os contemporâneos de Martha e José já faleceram há tempos. Mas vamos tentar.
       Desde sempre e até a publicação da primeira e segunda tiragem  de nosso livro "DOUSSEAU: ENTER - FRANCESES NO IMPÉRIO DO CAFÉ", a figura de MARTHA MANDRAL, irmã brasileira de SUZANNA, sempre foi bastante obscura. Pouco se informava sobre ela, quando do início de minhas pesquisas, em 2006, seja em BICAS, seja nos MACHADOS. As observações que eu tinham vinham apenas de minha mãe e se referiam, quando muito, a relatos minguados de minha avó. Os ditos relatos nos davam conta de uma moça bastante peculiar (a palavra 'perturbada' era utilizada na intenção de defini-la), coisa que o fato de nunca ter tido filhos de seu casamento tornou ainda mais evidente. 
        Dela tínhamos apenas o registro de nascimento, e presença na foto de família, de pé entre seu irmão ELIAS e sua mãe MARIE. Como a supúnhamos sem marido e sem filhos... história encerrada, sem maiores aprofundamentos.

                                                          
        Mas...
FAMÍLIA MANDRAL DOUSSEAU: da esquerda para a direita, em pé: ELIAS MANDRAL, MARTHA MANDRAL, MARIE DELPÉRIER MANDRAL e ANNET DOUSSEAU. Sentados: JOÃO DOUSSEAU, ALICE DOUSSEAU, MERITA DOUSSEAU, FRANCISCA GUILHERMINA DOUSSSEAU, MARIA DOUSSEAU, SUZANNA MANDRAL DOUSSEAU. No colo, MARGARIDA ou SEBASTIÃO DOUSSEAU. FONTE: ODETTE DOUSSEAU GUILHERMINO ROCHA e DÉBORAH DELAGE.
        Eis senão quando, há poucos meses, fui contactada quase que concomitantemente por ÂNGELA e RUTE BARBOSA, através do FACEBOOK. Numa pesquisa movida pelo mesmo "não sei que" que um dia moveu a mim e a tantos outros, ÂNGELA resolveu pesquisar pelo sobrenome de sua bisavó "francesa": MANDRAL. E assim foi que chegou a esse blog e puxou o "fio da meada" de tudo que viria a seguir. 
        Devemos ressaltar que essas descendentes vivem muito longe de MINAS e dos MACHADOS, mais especificamente, nos estados do PARANÁ e de SÃO PAULO e não tinham basicamente nenhum conhecimento sobre seus ancestrais. Utilizando dos contatos disponibilizados nesse blog, me encontraram. E começamos esse "caminho paralelo" de pesquisa, que nos descortinou uma família inteira que estava perdida para nós.

                                                     
MARTHA MANDRAL e ANTÔNIO JOSÉ BARBOSA. FONTE: ÂNGELA BARBOSA 


REGISTRO DE CASAMENTO DE MARTHA MANDRAL e ANTÔNIO JOSÉ BARBOSA. FONTE: RUTE BARBOSA.


                                                      
REGISTRO DE ÓBITO DE MARTHA MANDRAL BARBOSA. FONTE: RUTE MARBOSA



        Segundo o que sabemos agora, o "mal" que acometia MARTHA nada mais era do que a epilepsia que, como sabemos, naquele final de século XIX e começo de XX era mesmo visto com bastante preconceito. O desconhecimento do que era realmente aquele mal dava margem a muita discriminação e isolamento daqueles que por ela eram acometidos. Assim não fosse e a imagem de MARTHA não teria chegado até nós tão adulterada. Felizmente temos aqui e agora a oportunidade de resgatar sua imagem, sua existência, suas dores, alegrias, angústias e experiências de vida. 
        Já sabíamos que MARTHA tinha chegado a se casar com um homem de nome JOSÉ BARBOSA, alcunhado de "PARAÍBA" (filho de cearenses).Que não havia tido filhos, o que seria aliás a provável origem de seus males. De onde saiu essa história é o que me pergunto hoje. Na verdade, MARTHA teve tres filhos. Nascida em 22 de Agosto de 1899, em MARIPÁ DE MINAS,casou-se com ANTÔNIO JOSÉ BARBOSA em CARLOS ALVES, DISTRITO DE SÃO JOÃO NEPOMUCENO, no dia 13 de outubro de 1920. Por ocasião de seu falecimento, em 22 de outubro de 1929, foram declarados tres filhos: MARIA DOS ANJOS, com sete anos, JOSÉ BARBOSA, com 6 anos, e PHILOMENA BARBOSA, COM 4 ANOS. Essa última faleceu ainda criança, mas os outros dois deixaram grande descendência.ÂNGELA e RUTE são netas de JOSÉ BARBOSA e, portanto, bisnetas de MARTHA.



                                                   
MARIA DOS ANJOS BARBOSA, filha primogênita de MARTHA MANDRAL e ANTÔNIO JOSÉ BARBOSA. Na foto, acompanhada de seu esposo. FONTE: ANGELA BARBOSA.





REGISTRO DE ÓBITO DE JOSÉ BARBOSA. FONTE: RUTE BARBOSA
                                               
REGISTRO DE NASCIMENTO e cédula de identidade de JOSÉ BARBOSA. FONTE: RUTE BARBOSA









           Muito pouco me foi dito sobre ela, além do já citado. Parece que SUZANNA, ANNET e MARIE teriam cuidado de seus filhos, quando órfãos, ao menos durante um tempo. Porque o fato é que eles cresceram já longe das terras de MINAS GERAIS. Desconhecemos todos os detalhes sobre isso. O marido de MARTHA tinha realmente o apelido de "PARAÍBA". Suas bisnetas confirmam que ele era oriundo do Nordeste brasileiro. 
          Em minha próxima viagem a BICAS, pretendo "assuntar" um pouco mais sobre eles, agora já com todas essas informações.Pena que já se foram JOSÉ MANDRAL, ODETTE DOUSSEAU GUILLERMINO ROCHA e minha avó MERITA DOUSSEAU DUQUE. Teria tanta coisa a perguntar! Enfim... deixemos o tempo agir e as linhas da vida desenrolarem os nós.
          Abaixo, um brinde para todos nós. Essa é a mãe de ÂNGELA BARBOSA. Ela se chama MARIA JOSÉ e é filha de  JOSÉ BARBOSA e neta de MARTHA MANDRAL BARBOSA. Acham parecidas neta e avó?(Foto no alto da publicação).Eu acho demais! 


                                                    
MARIA JOSÉ (MANDRAL) BARBOSA, filha de JOSÉ BARBOSA. Neta de MARTHA MANDRAL e ANTÔNIO JOSÉ BARBOSA. FONTE: ANGELA BARBOSA.

       
          
             Quando soube da existência desse ramo familiar, já estava sendo impressa a terceira tiragem de nosso livro e não houve tempo de adicionar tudo isso. Mas consegui introduzir ao menos um parágrafo no capítulo chamado "FAMÍLIA MANDRAL". E publico aqui em homenagem a todos os MANDRAL BARBOSA:

             "Enquanto essa tiragem era editada, entre os meses de Maio e Julho de 2017, vieram à luz fatos tão importantes quanto inesperados, que serão melhor explicados no nosso blog e numa futura segunda edição desse livro. Devo adiantar, a bem da verdade histórica, que o tormento que acometia Martha Mandral era a epilepsia, responsável talvez por sua morte tão precoce. Porque sabemos agora que ela teve três filhos, dos quais dois sobreviveram e tem grande descendência vivendo no Paraná e no interior paulista. Duas de suas bisnetas, Ângela e Rute, "buscadoras" como nós. nos encontraram através do blog. A família Mandral Barbosa existe e é bem vinda entre nós."


          Obrigada, ÂNGELA e RUTE. Vocês desataram muitos e muitos nós!

Adendo 1 - Página do site GENEANET com parte da árvore genealógica da família DELPÉRIER MANDRAL. 



FONTE: gw.geneanet.org , através de ÂNGELA (MANDRAL) BARBOSA.
PS: Trabalho de MARYSE LABROUSSE, do ramo francês da família DELPÉRIER.



MARIA DOS ANJOS MANDRAL BARBOSA. Fonte: RUTE BARBOSA