domingo, 20 de dezembro de 2020

INCÊNDIO NA FAZENDA DA GRAMA

 20-12-2020

Bom dia a todos!


          No dia 21 de Novembro, nesse ano de 2020 tão sofrido nós, os amantes da História em geral e de seu patrimônio, tivemos a notícia do triste incêndio na FAZENDA DA GRAMA, em RIO CLARO, município de fundamental importância no Ciclo do Café fluminense. Uma das joias do VALE DO PARAÍBA.

          Em razão de uma ligação de nossos franceses com a FAMÍLIA BREVES, especialmente na pessoa do COMENDADOR JOAQUIM JOSÉ DE SOUZA BREVES, sua história e suas possessões no VALE e também na ZONA DA MATA MINEIRA, houve um tempo em que mergulhei fundo na história dessa família como se minha fosse, o que vocês podem constatar tanto na leitura de nosso livro quanto passeando pelas páginas desse blog.

         Imediatamente após ler essa notícia, ainda nas primeiras horas da manhã, repassei-a para FABIO RODRIGUES, morador de MANGARATIBA e também amante da história da região, com a qual é ligado afetivamente desde a infância. Além disso, muito ligado à SECRETARIA DE CULTURA daquele município, demonstra em todas as suas ações e publicações um interesse genuíno pela preservação e defende um reconhecimento  mais concreto das ruínas do SACO DE MAGARATIBA e da SERRA DO PILOTO como essencialmente ligados à história de MANGARATIBA e  dos BREVES pelos arredores.  Aliás, podemos dizer que os BREVES SÃO a região. Inclusive nos quilombos que ainda existem por lá, resistindo com muita coragem encontramos, de certa forma, o lado nada glamoroso e igualmente importante da opulência dos nossos Barões. Um "rescaldo humano", digamos assim,  para o qual ainda não se voltaram com vontade os olhos do poder público e dos amantes da mais genuína cultura popular, que precisa ser resgatada e valorizada em suas raízes. Ao menos assim percebe meu imaginário de historiadora amadora. 

         As fotos a seguir foram tomadas por ele, praticamente em seguida ao incêndio. As palavras que as seguem também lhe pertencem.






     Neste último fim de semana o casarão colonial de dois andares, sede da Fazenda São Joaquim da Grama, em Rio Claro, erguido pelo Comendador Joaquim José de Souza Breves, o maior escravagista e produtor de café brasileiro, foi incendiado. Neste imóvel do Século XIX, Patrimônio Histórico-Cultural da nossa região praticamente abandonado pelo poder público, foram discutidos assuntos de interesse dos senhores imperiais e costurados acordos políticos de todo o sul fluminense e do Brasil. Parte importante da nossa História se vai com o incêndio! Nossa memória importa para não esquecermos alguns absurdos cometidos pelo ser humano! Preservem nossa cultura! Preservem nossa identidade!

No mesmo dia, algumas horas depois, no mesmo FACEBOOK, mais uma postagem muito esclarecedora sobre o evento em questão, por CLÁUDIO PRADO DE MELLO, replicada na página O PASSADO DO RIO no que se refere aos aspectos da teia de trâmites e questões que envolvem nossos patrimônios histórico-culturais. Vejamos:


A REALIDADE DA FAZENDA DA GRAMA , EM RIO CLARO, NESSA SEGUNDA, APÓS O INCÊNDIO DE SÁBADO-DOMINGO

Realizamos nesta segunda-feira (23), uma vistoria na Fazenda São Joaquim da Grama, em Rio Claro, que foi atingida por um incêndio na noite do último sábado (21).
A equipe esteve no local para verificar a estrutura do casarão construído no século XIX, mas constatamos que o incêndio ainda tinha focos consumindo várias partes e chamamos os Bombeiros de Barra do Piraí e Volta Redonda, que chegaram ao local para combater os focos.
A Fazenda São Joaquim da Grama foi residência da família do comendador Joaquim José de Souza Breves, o "Rei do Café". O imóvel faz parte do inventário do Inepac, mas não foi tombado em 2007 quando os proprietários solicitaram o tombamento.
Porém, a igreja da Fazenda São Joaquim da Grama tem o seu tombamento definitivo (processo número E-03/1.800/89).
Em setembro de 2019 os proprietários tinham procurado o órgão para uma conversa sobre a restauração do casarão, mas essa conversa ainda não tinha evoluído quando foi eclipsada por esta tragédia.
Além da vistoria, também buscamos informações com a Polícia Civil, responsável pela investigação, para saber os motivos do incêndio e ouvimos moradores, políticos e representantes da comunidade.
O Inepac na atual gestão está fortalecendo as ações para a preservação do patrimônio histórico em todo o estado, principalmente no interior. Hoje contamos com a possibilidade de obter recursos via Lei do Incentivo Fiscal do ICMS e dessa forma temos levado essa possibilidade a muitos proprietários como forma de obter recursos para a restauração do seu bem tombado. Várias cidades já receberam visitas técnicas neste ano.
Para auxiliar nesse reforço, o órgão criou o Brigada do Patrimônio, um sistema voluntário e colaborativo que tem recebido diversas denúncias através do número (21) 98913-1561, que também possui o serviço de WhatsApp e funciona 24 horas por dia.


Enfim, queridos leitores, falar sobre o abandono de nosso patrimônio histórico-cultural é praticamente "malhar em ferro frio", como bem o sabemos. Mas o que seria do ainda resta, não fosse a existência de "trazedores à luz"? Bem aventurados todos eles!

PS: A postagem de Cláudio Prado de Melo vem acompanhada de fotos na referida página no Facebook. Convido o leitor a segui-la, pois é um passeio normalmente muito agradável.

Obrigada por sua visita e volte sempre!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

DOUSSEAU NO MURO!

Bom dia, povo!

           Sei que venho trazer uma "novidade velha" mas, por conta desse tempo de exceção que estamos vivendo devido à pandemia de coronavirus eu, literalmente, não estou vendo o tempo passar. Tudo aquilo que nos insere na realidade, através dos compromissos diários, dos aniversários, das comemorações cívicas ou culturais, do convívio em geral, foi deixado de lado e, com isso, o tempo passou a ser mera abstração.

            Eu pretendia fazer essa publicação quando tivesse ido antes,  pessoal e educadamente,  agradecer à homenagem tão linda e que tanto me sensibilizou, estampando o muro da SECRETARIA DE CULTURA de BICAS. Sei que houve um momento qualquer no qual alguém, por iniciativa própria, sugeriu que nosso livro fosse estampado ali. Gostaria muito de saber quem e agradecer sinceramente. Talvez a  maioria das pessoas não saiba  o valor que isso possa ter, não só para mim, mas para todos os pequenos produtores de cultura. E é um exemplo positivo e inspirador que pode ser para a formação dos jovens biquenses que visitem aquele espaço. Ideia genial! 

            Como eu não saberia listar a quem devo todos os meus sinceros agradecimentos, faço-o na pessoa do Secretário de Cultura, ALEXANDRE DE CASTRO MENDES; do pintor SCOOBY, autor da obra; da funcionária ALZIRINHA e de quantos mais, de forma direta ou indireta, estiveram envolvidos nesse projeto de cidadania e na divulgação do mesmo.   

            Em meu nome e no nome dos DOUSSEAU do BRASIL e da FRANÇA... MUITO OBRIGADA!


                                                                                





Todas as fotos são de autoria de AMARILDO MAYRINK

              

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

FELIZ ANIVERSÁRIO GUARARÁ!!

 

                                                                 




Bom dia!

      Embora com alguns dias de atraso, venho compartilhar com vocês uma postagem de "GUARARÁ PATRIMÔNIO HISTÓRICO", que você pode encontrar no FACEBOOK e  na qual RODRIGO, seu dedicado administrador descreve, com seus conhecimentos, mas também pelo seu amor pela terrinha, os motivos pelos quais devemos comemorar seus 130 anos de história. Mais abaixocompartilho algumas fotos com você. Mas quer encontrar mais, muito mais? Siga a página GUARARÁ PATRIMÔNIO HISTÓRICO no Facebook e tão bem cuidada por RODRIGO ou passeie aqui mesmo nesse blog, através das páginas de "Fotos Antigas" e de "Documentos Antigos. PARABÉNS, GUARARÁ!


"Neste festivo 05/12/2020 o Município de Guarará completa seus 130 anos de emancipação política e administrativa. Desde sua fundação oficial, em 1828, e a partir daí construindo seu caminho entre vales, montanhas, matas fechadas, riachos e ribeirões foi se desenvolvendo. O recém criado curato do Espírito Santo vira seu povoamento expandir conforme se avançavam os anos e décadas seguintes, até a data de 05/12/1890, quando se realizou o anseio de seus habitantes de terem uma vida própria e independente.
O desbravamento dessas terras quase inabitadas foi lento durante as primeiras décadas de povoamento. Trilhos estreitos entre a vegetação densa e pequenas pontes improvisadas com troncos de árvores para o trânsito de pessoas e tropas foram aos poucos se consolidando como caminhos que levariam ao estabelecimento dos primeiros colonos e suas famílias. Com o passar do tempo, esses precários trilhos e pontes foram cedendo lugar a novas rotas, com uma melhor estrutura, e dessa forma criando novos trajetos para o deslocamento de pessoas e tropeiros, por diversos pontos das terras do Distrito do Espírito Santo, inclusive rumo a outros destinos da região. Assim, o progresso foi chegando e fazendo morada nas terras consagradas ao Divino Espírito Santo que futuramente receberia o nome de Guarará, por sugestão do 2º Barão de Catas Altas, depois da emancipação.
Após 1890, novos sonhos e perspectivas alimentavam a vida dos antigos moradores e dos novos cidadãos que chegavam de diversas partes de Minas Gerais e da região Sudeste. O período pós-emancipação também coincide com a chegada em maior número de imigrantes vindos da Europa: portugueses, espanhóis, franceses, alemães e em especial, os italianos. Posteriormente, imigrantes sírios, libaneses e turcos vieram se estabelecer em nossas terras. Toda essa diversidade étnica produziu um excepcional caldeirão cultural em nosso Guarará e região, deixando marcas positivas até o momento atual.
Com o tempo, muitos deixaram essa terrinha e foram atrás de seus sonhos em outros lugares da região e do país. Os espaços urbanos e rurais, antes agitados com o êxodo, foram abrindo caminho ao cenário de tranquilidade e nostalgia, que passou a se fazer presente em suas terras doravante.
Essa é a realidade histórica de nossa cidade, com sua gente simples que encontramos numa esquina após a outra. As décadas passaram e nesses 130 anos de emancipação vivenciamos nossas histórias e memórias recortadas por uma paisagem de vales e montanhas (mesmo com pouca vegetação de mata original), regados a muito amor, carinho, respeito, dedicação e admiração por essa Terra hospitaleira que acolheu e continua acolhendo seus filhos naturais e adotivos.
Parabéns, Guarará, pelos seus 130 anos de emancipação em 05/12/2020!" .





Fonte: ALMANAQUE DE GUARARÁ, DE F.S.TEIXEIRA, PROPRIETÁRIO EDITOR DA GAZETA DE GUARARÁ.



Fonte: ALMANAQUE DE GUARARÁ, DE F.S.TEIXEIRA, PROPRIETÁRIO EDITOR DA GAZETA DE GUARARÁ.



Fonte: ALMANAQUE DE GUARARÁ, DE F.S.TEIXEIRA, PROPRIETÁRIO EDITOR DA GAZETA DE GUARARÁ.

Fonte: ALMANAQUE DE GUARARÁ, DE F.S.TEIXEIRA, PROPRIETÁRIO EDITOR DA GAZETA DE GUARARÁ.



GUARARÁ ANTES DE 1909. Fonte: GUARARÁ HISTÓRIA E CULTURA




ANTIGA IGREJA DO ROSÁRIO. Fonte:  guararahistoria.blogspot.com.br



 ANTIGA CÂMARA MUNICIPALl- 1917.  Fonte: - FRANCISCO OLIVEIRA em GUARARÁ HISTÓRIA E CULTURA.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

ORAÇÃO AOS ANTEPASSADOS

      Bom dia a todos! As redes sociais trazem uma infinidade de "lixo virtual", bem sabemos. Mas... como dispensar algumas delícias e maravilhas que encontramos ao longo desse caminho tortuoso e infindável? Veja só essa, publicada no FACEBOOK por ÂNGELA PEREIRA, em 22 de Julho de desse ano de 2020.  Como diz o bordão... "só li verdades". Amém GUILLAUME, MARIE, ANNET E MARIÁ! Amém JEAN, MARIE E SUZANNA, que deixaram todos sua FRANÇA no final do século XIX! Amém também aos GONÇALVES FILGUEIRAS DUQUE, que deixaram todos sua península ibérica provavelmente desde a metade do século XVIII! Quem sabe até antes! E, claro, amém também aos MAYRINK, originários da ILHA DA MADEIRA, embora de origem prussiana, chegando por aqui, também provavelmente, nos primórdios do século XVIII. 

     Se você é brasileiro, tem história semelhante. Aliás... se você é HUMANO, tem história semelhante. 

    Sei que saberão compartilhar minha emoção com o texto a seguir, de autoria de BERT HELLINGER.


Abraço a todos!


                                       
Adicionar legenda


"Gratidão queridos pais, avós e demais ancestrais por terem tecido o meu caminho; imensa gratidão pela imensidão dos seus sonhos que, de alguma forma, são hoje a minha realidade.
A partir deste ponto e com muito amor, dou luz à tristeza que houve nas gerações passadas; dou luz à raiva, às partidas prematuras, aos nomes não ditos, aos destinos trágicos.

Dou luz à flecha que cortou caminhos e tornou a calçada mais fácil para nós.

Dou luz à alegria, às histórias repetidas várias vezes.

Dou luz ao não dito e aos segredos de família.

Dou luz às histórias de violência e ruptura entre casais, pais e filhos e entre irmãos. E que seja o tempo e o amor que volte a unir.

Dou luz a todas as memórias de limitação e pobreza, a todas as crenças desestruturantes e negativas que permeiem o meu sistema familiar.

Aqui e agora semeio uma nova esperança, alegria, união, prosperidade, entrega, equilíbrio, ousadia, fé, força, superação, amor, amor e amor.

Que todas as gerações passadas e futuras sejam agora, neste instante, cobertas com um arco-íris de luzes que curem e restaurem o corpo, a alma e todos os relacionamentos

Que a força e a bênção de cada geração alcance sempre e inunde a geração seguinte.
Assim seja. Assim é!" 

      
      
          

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

O CULTIVO DO CAFÉ NA FLORESTA DA TIJUCA

    

                                                                         

No topo, a mata. Nas encostas, o café. (Foto: Divulgação/ Stanley, Owen)



     Bom dia! 

     Tive recentemente contato com uma publicação da BBC NEWS BRASIL que muito me interessou. Trata-se do "'passado cafeicultor", de nossa FLORESTA DA TIJUCA. Passado esse sobre o qual muito pouco se fala. 

     O que nos interessa, sobremaneira, é a questão do plantio de café na FLORESTA DA TIJUCA. Ao menos uma das famílias dos imigrantes franceses do ORENOQUE, após deixar a FAZENDA MONTE CRISTO, em MARIPÁ DE MINAS, logo após o "episódio da estação de BICAS" envolvendo FIRMIN FRANÇOIS ALIBERT e já relatado em nosso livro e aqui nesse blog, foi realocada pelo CONSULADO FRANCÊS em "uma fazenda do RIO DE JANEIRO "de cujo alto se podia ver uma boa parte da cidade e o mar". Conhecemos esses relatos por correspondências desses imigrantes com sua família na FRANÇA e que PASCALE LAGAUTERIE teve oportunidade de conhecer, em suas pesquisas. Não consigo imaginar outro lugar que não seja esse: a FLORESTA DA TIJUCA. 

     Levei muito tempo para entender e até para compreender e acreditar nesse relato dos imigrantes porque, naquela ocasião, ainda desconhecia os importantes fatos históricos relacionados à FLORESTA DA TIJUCA e ao CICLO DO CAFÉ.  Mas essa excelente publicação, cujo link deixo agora para vocês, só nos enriquece, esclarece... e nos deixa boquiabertos. Vamos?

  Eis a direção: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49530574?fbclid=IwAR0DpfIu8chn--FNpb2VYfr3mBHK4FwdMChXAOJ8kLkfBoKHqBmtRGZczUM


  Espero que tenham gostado dessa viagem de conhecimento, através do tempo. De nossa história. 



                                               

sábado, 27 de junho de 2020

HOTEL FRANCÊS EM ROCHEDO DE MINAS???

     Hoje posto uma foto não antiga, mas de um imóvel antigo, na esperança de que, um dia, algum leitor amigo, conhecedor da história de ROCHEDO DE MINAS, possa nos ajudar. 
      Amigas queridas, pesquisadoras e também descendentes dos franceses do PÉRIGORD, encontraram um registro de óbito de um antepassado no cartório daquela cidade que dava, como local do falecimento do mesmo, o "HOTEL FRANCÊS". Ora, nem hoje nem durante toda minha vida ouvir falar que ROCHEDO tivesse tido, algum dia, um hotel. Não seria de se estranhar que tivesse, pois tinha estação ferroviária e uma coisa geralmente acompanhava a outra.  O espanto nos vem do fato de que mesmo BICAS, a "metrópole" daquela micro-região, sempre os manteve com dificuldade e no máximo um de cada vez. Hoje mesmo, pleno século XXI, não passam de dois os que temos na cidade. Que também não tem mais suas oficinas nem sua querida ferrovia, como teve também ROCHEDO. 
     Muito nos intrigou a todos a menção à esse hotel em ROCHEDO. Não houve quem me esclarecesse à respeito. Talvez, quem sabe, algum arquivo ou cartório de SÃO JOÃO NEPOMUCENO, sede da Comarca durante muito tempo. Mas sabemos o "trabalho de Hércules" que nos exige pesquisar nos cartórios de todo tipo. Mesmo nesses nossos tempos de informatização, digitalizações e democratização de informações, o objetivo final dos cartórios não está relacionado à cultura e pesquisas em geral, bem o sabemos. Quem sabe um dia... quando tais documentos só tiverem interesse histórico... 
     Meu irmão AMARILDO fez a gentileza de fazer uma breve visita de pesquisa à ROCHEDO e, embora ninguém soubesse informar sobre a existência de um hotel naquela cidade, em qualquer tempo, ele teve a atenção despertada para esse imóvel da foto. Tanto por sua localização em frente  à estação quanto pelo aspecto arquitetônico, similar ao também agora extinto BICAS HOTEL e outros que existiram em BICAS, não ao mesmo tempo. Hoje é residência particular.
     Publico aqui a dita foto na esperança de que alguém, um dia, venha em nosso socorro com informações que possam nos ajudar a esclarecer um pouco mais da história da família MOUTY e seu antepassado que, um dia, faleceu nesse Hotel do qual poderia também ter sido o proprietário. 








terça-feira, 23 de junho de 2020

MANDRAL DE VARGINHA

     A família MANDRAL, de SUZANNA, esposa de ANNET DOUSSEAU, sempre foi muito difícil de pesquisar. Desde o começo, pouquíssimas informações. Não fosse por JOSÉ FERREIRA MANDRAL, ao qual tive o prazer de conhecer numa manhã em seu apartamento, em LARANJEIRAS e de cujo rumo e existência tomei ciência pela querida e sempre bem disposta "Eny do Maninho", saberia ainda menos do que sei.  Infelizmente, essa foi a única vez que o vi. Ele já tinha mais de 90 anos naquela ocasião e eu morava em outra cidade. Depois desse dia falamo-nos algumas vezes por telefone e ele tomou assim ciência de que "nosso livro" estava sendo enfim publicado e lhe seria enviado. Suas palavras foram: "Você fez! De verdade!". Infelizmente, embora alguém tenha recebido o exemplar que lhe foi enviado, não foi ele. Faleceu antes disso, infelizmente.
     Em nossa conversa soube que ele teve dois filhos homens e que tinha netos que residiam em Varginha, Minas Gerais. Fotos de todos eles enfeitavam sua sala. Nunca consegui contatar nenhum deles.
     Recentemente, em mais uma de minhas infindáveis buscas pelo Google, acabei encontrando a notícia abaixo. Achei por bem republicar, porque, depois do senhor Elias, outro ramo surpreendentemente desconhecido de MANDRAL , do sul do Brasil, nos encontrou por esse blog. Então creio que continua sendo aqui o local apropriado para colecionar as memórias de família. Mesmo daquela parte que nem sequer chegamos a conhecer.
    Apenas para lembrar: os MANDRAL que chegaram ao BRASIL em 1888 foram o casal  JEAN MANDRAL e MARIE DELPÉRIER MANDRAL. Esse casal trazia uma filha, SUZANNA, que vem a ser minha bisavó. No BRASIL, JEAN e MARIE tiveram mais dois filhos: ELIAS E MARTA. ELIAS, pai do senhor JOSÉ, deve ter nascido logo após a chegada dos pais ao BRASIL. Ainda não nos foi possível precisar quando (1888? 1889?) nem onde (FAZENDA BOTAFOGO? FAZENDA BELA ALIANÇA? Ambas no VALE DO PARAÍBA). Segundo senhor JOSÉ, seu pai teria morrido com aproximadamente 60 anos. Também não temos ciência de data e/ou local exatos. ELIAS teve cinco filhos, dois homens e 3 mulheres. Um dos homens teve paradeiro desconhecido pelo senhor JOSÉ. E o próprio senhor JOSÉ saiu cedo da região de MACHADOS/BICAS/SÃO JOÃO NEPOMUCENO, para o serviço militar e nunca mais voltou.
    Sobre sua vida depois disso, não entrou em detalhes e nem tempo houve para isso. Segundo minha mãe, minha avó ainda tinha algum contato com essas primas e primos MANDRAL enquanto viva. Ao menos num primeiro momento.
    Tempos atrás, através desse blog, fui encontrada pelos MANDRAL do Sul, todos descendentes de MARTA que, ao contrário das truncadas histórias contadas, não só teve filhos, como mais de um, de sobrenome BARBOSA. Como foi maravilhoso encontrá-los!
    Sendo assim, por eles e para eles e por todos nós, achei por bem publicar aqui a notícia encontrada, referente a um dos netos (ou bisneto?) de JOSÉ FERREIRA MANDRAL. Portanto, com ele compartilhamos as raízes que nos alimentaram. A notícia é triste e espero, publicando-a aqui, não causar nenhum constrangimento, mas sim honrar e deixar registrada a memória de uma existência. No mínimo ajudará um familiar que, no futuro, deseje continuar esse trabalho de resgate que iniciei.
   Deixo aqui meu abraço à(s) família(s) MANDRAL de VARGINHA. Fraternalmente.


Fonte: blogdomadeira.com.br

Fonte: Varginha on-line

 

quarta-feira, 10 de junho de 2020

A COMENDA DO COMENDADOR

Bom dia a todos!

     Pensei em adicionar essas fotos na página de Fotos Antigas mas... as fotos são novas. Os objetos fotografados é que seriam antigos. Sendo assim...
     No interior de Minas e em quase todo canto desse nosso brasilzão, existe o hábito de "titular" pessoas não oficialmente. Os "coronéis" não são coronéis. Os "comandantes" não são comandantes.  Os "doutores" não são doutores... e por aí vai. Sendo assim, embora títulos e comendas fossem farta e estrategicamente distribuídos em nosso Brasil imperial, sempre me ficou faltando VER os documentos que os comprovem, no caso do "personagem principal" de nossa saga de imigrantes, ou seja, FIRMIN FRANÇOIS ALIBERT.
     Se, por um lado, todo o percurso de ALIBERT, que vai muito mais longe do que abordado tantas vezes aqui, justificaria, a meu ver, tal comenda e talvez até mais que isso, por outro lado intrigava-me o fato de tais fatos de importância numa comunidade tão pequena quanto BICAS e arredores terem sido solenemente ignorados e apagados com o correr dos anos. O fato de ALIBERT ter terminado seus dias sem nenhum brilho social não justifica que o que ele representou tenha sido apagado da história social do lugar. Pessoas muito menos importantes naquela região nomeiam praças, ruas e prédios públicos. Sim, era francês; mas optou pelo Brasil e trouxe  inúmeras famílias que estão ali, ainda hoje, povoando a região. 
     Preciso deixar claro que, quando teço essas considerações, não me refiro à valores morais ou motivações íntimas de qualquer tipo. Essas foram controversas ainda naquele tempo. Falo do valor REAL para a sociedade da época. Pelo quanto modificou o destino de tantos e pelo que foi capaz de ter e realizar, materialmente falando. Se é justamente isso que determinava e ainda determina a concessão de títulos e privilégios...
     ALIBERT teve presença marcante também no VALE DO PARAÍBA e muito, principalmente no RIO DE JANEIRO, a CORTE. Era muitíssimo bem relacionado e isso, sabemos, produz frutos ainda maiores que as próprias obras. Mas... não foi assim com ele. 
     Para mim, por mais que estude, leia, confronte pontos de vista, FIRMIN FRANÇOIS ALIBERT é uma incógnita. E, sendo assim, considero bem introduzida as imagens abaixo.  Elas me foram encaminhadas por LEONARDO (ALIBERT) MEIRELLES, seu bisneto e estavam sob o poder de uma prima, em JUIZ DE FORA. 
     Assim como para qualquer pesquisador que se propõe à fazer um trabalho sério e confiável, o documento principal, para nós, seria o documento comprobatório, em si. Com o nome do titulado bem visível e a inevitável assinatura de D.PEDRO II. Mas não o temos. Isso não representa dúvida sobre a realidade dos fatos. Todos os documentos oficiais da região  se referem à ALIBERT como "Comendador". Mas ter o documento seria muito interessante para nós, sem dúvida.

     Segundo a página https://super.abril.com.br/historia/ : 
    "Quando surgiu, na Idade Média, a recompensa tinha um significado bem diferente. Naquele tempo, a comenda era um benefício dado a membros do clero ou a militares que demonstravam valentia em batalhas. Geralmente, a comenda era algo valioso, como o  título de propriedade de uma terra. Com o passar dos séculos, seu valor tornou-se simbólico, representado por diplomas ou medalhas", afirma Waldemar Baroni, heraldista (especialista em títulos e emblemas da nobreza) do Conselho Estadual de Honrarias e Mérito de São Paulo (CEHM).
     Se antes o Comendados tinha a obrigação de defender a terra recebida contra inimigos hoje ele não tem função definida. No máximo, a distinção confere algum prestígio em certos círculos sociais. Mesmo assim, o título sobrevive no cerimonial de governos e instituições privadas, que seguem uma hierarquia de acordo com a importância do homenageado. 'O menor grau é cavaleiro, seguido de oficial, comendador, grande oficial, grã-cruz e, quando existe, grão colar", afirma outro heraldista, Adilson Cezar, também do CEHM."

    Pelo que pude apreender da pesquisa que realizei recentemente, a Comenda poderia vir como diploma OU medalha. Isso pode ser bastante esclarecedor quanto ao fato de não termos um documento. 
    Enfim, aqui está "A COMENDA DO COMENDADOR ALIBERT". Para apreciação de quantos tinham a mesma curiosidade que eu e para deixar registrada e comprovada sua existência.


sexta-feira, 3 de abril de 2020

DOZE HORAS EM DILIGÊNCIA - GUIA DO VIAJANTE DE PETRÓPOLIS A JUIZ DE FORA

Queridos leitores,
     
       Tempos atrás, no auge de minhas pesquisas junto à BIBLIOTECA NACIONAL, tive contacto com o original dessa magnífica publicação, quando buscava maiores dados sobre a chegada da ferrovia à BICAS  tentando entender o que eram as vias de acesso àquela região, naqueles tempos já remotos. 

       Sabemos que em 1885 e 1888, quando vieram nossos bisavós, já existia a alternativa para chegar a Bicas de trem mas, basicamente a viagem era a mesma, em tudo que a qualifica como "pitoresca".
       Mais recentemente, nosso amigo JOÃO FRANCISCO CARVALHO enviou-me o arquivo em pdf desse livro, pelo qual muito agradeço. Como já o conhecia, guardei para utilização futura. Hoje, Março/Abril de  2020, vivendo o momento único de isolamento social devido à pandemia de coronavírus e sabendo da dificuldade de muitos com arquivos em pdf, resolvi transcreve-lo aqui.Espero que apreciem, preencham com saber seus momentos de ócio forçado e aprendam maravilhas. Porque isso nunca é demais!
Boa leitura!


PS: Texto atualizado segundo a linguagem corrente em nossos dias. 









                                         DO RIO DE JANEIRO À PETRÓPOLIS
                             PELO VAPOR E A ESTRADA DE FERRO DE MAUÁ

                                                    SERVIÇO TODOS OS DIAS
     Partida da Prainha às 6 horas da manhã nos domingos e dias de festejo; às 2 horas da tarde nos dias úteis.
     Estas horas de partida são algumas vezes alteradas, porém os jornais indicam essa mudança alguns dias antes.
     Há tílburis para conduzir os passageiros à estação do embarque; tomados no interior da cidade, custam 500 réis; os carros de quatro lugares custam 2 mil réis.
     Os bilhetes para Petrópolis são entregues para viagem inteira ou para as estações. 
                                                          
                                                           VIAGEM INTEIRA
                                                  1ª classe ............................ 8$000
                                                  2ª classe............................. 6$000
                                                  3ª classe..............................4$000

     Estabeleceu-se a 3ª classe para os escravos, porém as pessoas que querem tirar o calçado, ali são admitidas, o que frequentemente acontece com a maior parte dos trabalhadores dos campos.
     Para as estações paga-se:
Da Prainha a Mauá                1ª classe............. 1$500
                                              descalços ..........     500
Da Prainha a Inhomirim        1ª classe ............ 2$500
                                               2ª classe ............ 1$500
                                               descalços........... 1$000
Da Prainha à Raiz da Serra    1ª classe .........4$000
                                               2ª classe..........3$000
                                               descalços........1$000
Carros da Serra                      1ª classe ........ 4$000
                                               2ª classe ........ 3$000

      A viagem em vapor, os instantes passados sobre a estrada de ferro e a subida da serra, oferecem aos amadores as vistas mais agradáveis. Do ponto culminante dessa montanha elevada de 1000 metros, pouco mais ou menos, acima do nível do mar, um panorama imenso e de um especto realmente esplêndido encanta a vista. No extremo horizonte avista-se o Rio de Janeiro, com sua baía que o cinge, e que é tão vasta que poucas são conhecidas que a igualem. 
     Em breve ofereceremos aos nossos leitores um pequeno guia, do Rio de Janeiro à Petrópolis, para explicar essa viagem.

                                                        CHEGADA A PETRÓPOLIS
     Encontra-se um confortável regular no hotel de Bragança e na casa particular do senhor Dujardin, antigo hotel de França. 
     No hotel de Bragança  paga-se por pessoa e por dia 5$000; em casa do senhor Dujardin trata-se com ele mesmo. 
     Encontra-se em Petrópolis carros e cavalos de aluguel para passeios nos arredores. 
     À tarde, as pessoas que gostam de baile, acharão ali o seu desideratum; os alemães, esses laboriosos colonos, entregam-se com fúria a esse divertimento.
     Nos domingos e dias de festejo principiam a danças às seis horas da tarde e finalizam às seis horas da manhã. Petrópolis não tendo a felicidade de possuir o gaz, vejam os leitores como esses filhos da grande raça germânica sabem suprir esta falta de luz.
     N.B.  Julgo eu dever observar aos meus leitores, que não é sempre prudente tomar os lugares do tejadilho para subir a serra, visto chover quase todos os dias, antes de chegar ao lugar de destino.


                                                                 PREFÁCIO
     Não é a primeira vez que experimento o desejo de tornar conhecida a bela estrada União -Indústria; infelizmente nem sempre os meios pecuniários estão relacionado a este desejo. Na maioria das vezes é impossível realizar minhas ideias.
     No entretanto, um dia em que me achava fazendo retratos numa casa que me é cara, resolvi definitivamente por mãos à obra e escrevi essas  Doze Horas em Diligência, que tenho a honra de recomendar aos meus leitores.
     Num trabalho feito à galope, não se pode esperar estilo elegante e florido, mas sim uma ligeira descrição dos lugares notáveis, atravessados ppr uma estrada magnífica. Esta obra não tem o merecimento senão o de ser: o primeiro guia do viajante feito no país,  guia ilustrado de desenhos copiados da fotografia. 
     Ouso esperar que seja de tanta utilidade ao jovem brasileiro, desejoso de instruir-se, como ao estrangeiro que se dará por satisfeito de levar uma lembrança desta terra admirável, que nunca se percorre sem sentir vivas emoções, causadas pela variedade e o grandioso de sua natureza.
     Se a minha simples descrição for útil à história, se os desenhos tirados de minhas fotografias atraírem a atenção dos amadores, se os quadros que eles representam causarem algumas sensações aos verdadeiros artistas, julgar-me-ei largamente recompensado das minhas fadigas e das minhas excursões nesta magnífica  terra de Santa Cruz, que habito a quase 20 anos e que deixará em minha memória a mais bela lembrança da minha humilde existência.






                                                                        A PARTIDA
     São seis horas da manhã. Os sons agudos das trombetas fazem-se ouvir. É o condutor (talvez João Alemão ou o menino Brandão: se for o último eu vos recomendo, ele merece muito ser apreciado) que nos chama à diligência.
     As mulas impacientes batem no chão as patas frementes; já disparariam, se não fossem retidas pelas mãos vigorosas do criado de estribaria. Esse barulho discordante, reunido aos da trombeta, no dizem suficientemente que não temos um instante a perder. 
     Entrem, entrem; partimos!
     Vamos com rapidez deixando atrás de nós a rua do Imperador; à direita ergue-se gracioso, porém não concluído, o palácio imperial; entremos na rua dos Protestantes. Uma curva e depois nos achamos no vale encantador de Westphalia, último arrabalde deste pequeno Versailles Brasileiro.
     À esquerda, uma ponte atravessa o Piabanha, caprichoso riacho que nasce na vertente ocidental da cordilheira dos Órgãos, e que depois de haver banhado com seus tributários todos os valezinhos de Petrópolis, nos acompanhará em nossa excursão por mais  de 60 quilometros; ora calma e límpido como um riacho de idílio, ora violento e fogoso como uma torrente indomada. Do outro lado dessa ponte existe o palacete do Barão de Mauá, cujo nome e serviços prestados são sinceramente louvados por todos os brasileiros.
     O Barão de Mauá é um desses homens que honram sua época de elevam-se à si mesmos elevando o seu país.
     Marchamos com toda rapidez; nossas mulas atravessam os espaços na razão de 16 quilômetros por cada hora.  Ali a casa do embaixador da Rússia, o Sr. de Glinka; em frente, num rochedo à nossa direita, uma chapa de mármore recorda os primeiros trabalhos da estrada União-Indústria, obra grandiosa que vamos hoje percorrer, devida à inteligente e incansável perseverança do finado Comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, que apesar de todos os obstáculos e superando todas as dificuldades, conseguiu finalmente dotar o seu país de uma via de comunicação admirável, que desenvolveu a riqueza de duas províncias e trouxe um progresso imenso que aumenta todos os dias. 
     Corremos sempre; chegando a ponte do Retiro, passamos para a margem esquerda do Piabanha; aqui e acolá transforma-se em torrente e suas cachoeiras sucessivas formam a final e esplêndida cascata de Bulhões-Cascatinha, que do carro não podemos ver, mas cujos surdos roncos ouvimos por baixo dos pés, como um trovão longínquo. Essa cascata se acha a 780 metros, pouco mais ou menos, acima do nível do mar, sendo um bonito passeio para os habitantes de Petrópolis; encontram-se ali picadas em ziguezague de onde se descobrem quadros encantadores.





     O vale de Westphalia, que acabamos de percorrer, é frequentemente o teatro de cenas de desolação, quando o Piabanha enche com as chuvas diluvianas, que às vezes caem em Petrópolis, esse pequeno rio sai de seu leito por demais estreito, atira-se, arrastando sob sua passagem as árvores, as casas, o solo vegetal mesmo, deixando apenas o rochedo nu e assolado. 
     A noite medonha de 8 de Janeiro de 1866, fora outras, deixará  por muito tempo a sua terrível lembrança.
     Amigos, que nos acompanham nessa viagem, embuçai os capotes, escondei os rostos nos cachez-nez, se tivestes o cuidado de trazê-los, porque o ar glacial que sopra neste lugar, torna-se ainda mais vivo pela rápida descida de Samambaia.
     Estamos agora no ponto de interseção de 2 ou 3 vales, cercados de picos graníticos, elevados e muito pitorescos; mas por ora perfeitamente gelados, por causa de seus raios anaclásticos . E naturalmente tanto o frio quanto o calor emitem ao meio-dia.
     Este belo conjunto de agulhas de granito, lançadas a um só jato a essa altura vertiginosa, pareceria talvez devida à uma dessas poderosas rupturas da casca sólida do nosso globo; dominando a paisagem torna-a infinitamente pitoresca; porém sobretudo o que ainda mais se faz notável , é o efeito que produzem aquelas árvores magníficas - Araucarias Brasiliensis- , certamente que se pode supô-las contemporâneas dessas mesmas agulhas, porque suas alturas e seus aspectos indicam  suficientemente que elas ali se acham desde longos anos.
     Paremos 5 minutos.  É a PRIMEIRA MUDA.







                                                                       CORRÊAS
     Na fazenda que se vê à nossa direita, há uma lembrança histórica. Em 1830-1831 D.Pedro I indo visitar a província de Minas Gerais aí parou; existe ainda o quarto onde ele foi convidado a passar a noite.
     Um pouco mais longe da fazenda, a pouco mais ou menos dois quilômetros, há uma pequena e linda cascata que de vez em quando é alvo do passeio da Família Imperial; os estrangeiros que vão à Petrópolis raramente deixam de lá ir. 
     Andamos de novo a estrada plana, continua descendo quase insensivelmente até o alto do Taquaril.
     Alcançamos a ponte do Bom-Sucesso, gracioso trabalho de ferro, sistema vigas direitas e grades.
     Essa ponte deve seu nome ao rio que atravessa e que tem o seu confluente nas águas do Piabanha,
por baixo mesmo do arco. Em 1866, na inundação de que já falei, as águas do Piabanha refluíram com uma impetuosidade tal, que a ponte correu graves riscos de destruição; os pilares ficaram suspensos no vão, sustentando´se só por sua força de inércia.





     Novos trabalhos de consolidação foram feitos depois, e hoje nenhum acidente desta ordem é de temer-se. 
     Ainda outra ponte, chamada Olaria, sobre o Piabanha: sua forma é singular, seus arcos laterais parecem-se com as caixas das rodas de um vapor; os ingleses chamam Bow String, sistema muito moderna que se recomenda mais por sua solidez que por sua elegância.
     O hábil engenheiro desta parte da estrada, o Sr.Bulhões, empregou quase todos os sistemas de pontes conhecidos, combinando-os com uma inteligência rara, o que, junto ao encanto da variedade, reúne a vantagem de fazer desses trabalhos de arte especiais, um importante ponto de estudo para um jovem engenheiro.
     Uma outra ponte chamada de Santo Antônio, é de varões retos de ferro.
     O vale que percorremos nada tem de muito notável por sua fertilidade; é ainda muito elevado, e o húmus vegetal arrastado por esses declives rochosos não chega a acumular-se em quantidade suficiente para formar um terreno próprio às culturas especiais; todavia, a fecundidade relativa desses terrenos permite ao incansável colono de colher anualmente duas colheitas de milho, feijão e batatas que amadurecem sucessivamente e indenizam os trabalhadores de suas fadigas e de seus cuidados. De quantas famílias infelizes da Europa , este canto de terra faria a felicidade?
     O homem inteligente que fez com labor, deste terreno, estéril na aparência, um terrenos mais produtivo que uma plantação de café, é o português Antônio Tavares Bastos.Emprega unicamente braços livres, e mesmo pagando-os bem, ainda lhe fica um benefício razoável. É à sua iniciativa, ouvimos dizer, que se deve esta capelinha chamada de Itaipava, que vemos por cima daquela trincheira, à nossa direita.
     À nossa esquerda vê-se a cascata chamada o Salto: em certo tempo do ano pesca-se ali o peixe com cestos; a descrição que me fizeram lembrou-me a famigerada pesca dos narizzes, que vi praticar em um pequeno rio da Suíça. À noite uma multidão de pessoas munidas de archote entregavam-se a este divertimento. Era verdadeiramente curioso. Eu vi as duas margens do rio literalmente cobertas de peixes e como aqueles não serviam para comer, perguntava-me à mim mesmo por que o homem comprazia-se sempre com tanta avidez na destruição? Aqui o caso não é o mesmo, porque parece que esses peixes são dos mais saborosos.
     Algumas curvas, alguns pequenos recantos que fariam as delícias de um pintor, e os marcos quilométricos, fogem atrás de nós; contamos o número 30 e estamos  na SEGUNDA MUDA.

                                                               PEDRO DO RIO
     Desta imensa estação, que foi a primeira da Companhia, breve nada mais restará do que o desenho retirado da fotografia que acompanha este pequeno livro. Ao ruído e à animação sucederão a calma e o silêncio.
     Durante os anos de 1858 e 1859, ela recebeu perto de 400.000 sacos de café; em 1867, recebeu apenas 5.187 sacos. É verdade que nos primeiros anos a estrada não ia além, e os lavradores deviam, à custa dos maiores sacrifícios, conduzir os seus produtos até a estação. Hoje os carros da Companhia recebem o café em toda a extensão da estrada e os transportam até o Rio de Janeiro, com uma economia que se pode avaliar em 12.403.000$000, em benefício da agricultura e do comércio, desde a criação dessa magnífica via de comunicação.
     A exportação do café que em 1858 era apenas 126.276 sacos elevou-se em 1867 a 496.144 sacos, transportados pelos carros da Companhia e pode-se avaliar em quantia igual os transportados por carros particulares; os nove ou dez mil contos de réis empregados nessa obra nacional tem contribuído par ao aumento da riqueza pública e o finado senhor Lage, que foi dela criador, merecerá sempre os maiores elogios, quando se falar em serviços prestado ao país.
     Durante essa digressão estatística mudaram-se os animais da nossa diligência e a nova parelha  nos arrasta com a mesma rapidez que a precedente. 






     O Piabanha corre à nossa esquerda, ora límpido e calmo, ora quebrando-se em cascatas no seu leitos de rochedos; já vão surgindo à nossa frente os declives rochosos da garganta do Taquaril que o rio atravessa, precipitando-se por uma estreita fenda de granito; chegamos a um dos pontos mais pitorescos dessa serra; à direta vede aquela cascata c hamada Jacubá, parece uma grande toalha d'água de quase oito metros de largura; ela é tão regular que antes parece uma obra de arte do que da natureza.
     O vale estreita-se cada vez mais, imensas paredes de granito elevam-se de cada lado da estrada; seus flancos quase perpendiculares conservam nas suas anfractuosidades alguma terra, onde cresce uma multidão de bromélias. Esta parte da estrada é quase toda lavrada na rocha, pendura o precipício no fundo do qual rolam iradas as ondas do Piabanha.
     Neste lugar do Taquaril selvagem e majestoso existe o único abaixamento desta serra que tínhamos à nossa esquerda desde Petrópolis, e portanto o único desfiladeiro possível para passar do vale superior do Piabanha ao da Posse.
     Os trabalhos consideráveis feitos nesta estreita passagem, testemunham o poder, a vontade e a perseverança humana; com efeito, representam-se os primeiros mineiros, suspensos a umas cordas sobre paredes verticais, batendo o duto granito; por baixo dos pés as detonações das minas repercutidas pelos ecos confundiam-se com os estrondos das massas de pedras arrancadas pela pólvora e que de queda em queda precipitam-se no fundo do abismo.






     Na época da construção desta parte da estrada, Sua Majestade o senhor D.Pedro II, que mostra sempre os mais vivos interesses por todos os melhoramentos do país, quis verificar esses trabalhos audaciosos; construiu-se para esse fim, sobre umas barras de ferro fincadas no rochedo, um caminho suspenso, vacilante e frágil, sobre o qual o Imperador passou duas vezes à cavalo, com toda a calma, como se estivesse passeando na Quinta de São Cristóvão.
     Mudamos a direção; o sombrio desfiladeiro transposto e após alguns ziguezagues, vemos abrir-se um gracioso vale, no meio do qual se avista um grupo de casas brancas: é a TERCEIRA MUDA.

                                                                        POSSE
     Esta estação é, e será por muito tempo, de grande importância para a Companhia; ao redor dela convergem todos os produtos da zona cafeeira do Rio Preto. O seu vale é pitoresco, os rochedos à nossa esquerda e as verdejantes plantações cafeeiras, fazem um contraste agradável à vista. 





     O Piabanha, que corre límpido e tranquilo no meio dessas campinas, parece descansar de sua corrida furiosa, depois do desfiladeiro do Taquaril; os altos montes que nos cercam, cortados de vales que se desenvolvem em várias direções, contribuem para dar à paisagem um aspectos dosm ais pitorescos. 
     Passamos defronte do hotel, a dois passos abre-se o vale que conduz à Aparecida; a Companhia fez a despesa de um princípio de caminho de distrito, porém o governos não tendo julgado conveniente dar o seu apoio para a conclusão das obras, o senhor Lage achou de seu dever suspendê-las. 
     Chegamos à ponte da Posse, atravessamos ainda uma vez o nosso companheiro de Petrópolis, o Piabanha,  e na sua margem esquerda continuamos nossa corrida.
     Este ajuntamento de casas, deste lugarejo,esta quase aldeia, chama-se o Areal.
     Desculpem, leitores benévolos, se por um momento eu abandono a estrada para falar de coisas que me são caras!
     A dez minutos, à nossa esquerda, no alto dessa eminência, acha-se uma pequena fazenda: seu nome é Saudade! Palavra que nas línguas estrangeiras é intraduzível.
     Achei nesta fazenda uma hospitalidade tão franca que nunca esquecerei; seu proprietário, o senhor Benjamin Weinschenk, a quem pertence a maior parte das casas que vemos, quis sem dúvida perpetuar a lembrança de minha passagem na sua casa; porque, segundo me consta, conserva ele ainda a denominação de Châlet  que dei a uma casinha que construiu então e que se acha perto desse saudoso retiro. 





     Mas, voltemos ao Areal, sem esquecer todavia que nesta fazenda eu vi a mais bela plantação de café dos arredores. Este lugar é um ponto comercial importante, por causa dos diferentes caminhos do Rio Preto, da Aparecida e do Carmo, lugares de muita produção, que confinam ali. Portanto não é raro encontrar, caminhando, um grande número de mulas, carregadas conforme os usos do país e andando em longas fileiras atrás da madrinha, cujos arreios são ornados de chapas de prata, de campainhas e algumas vezes de uma boneca vestida e orgulhosamente posta na parte superior da cabeçada, de modo que fica entre as orelhas. Estes ouropéis, na crença ingênua dos tropeiros, são destinados a simbolizar a protetora da tropa.
     À direita é a junção do Rio Preto e do Piabanha, uma ponte d emadeira torcida e balançando, na época em que escrevemos essas linhas, e uma outra mais longe que não podemos ver, faziam com as da Companhia o mais lastimoso contraste.
     Em redor de nós sobre as colinas aparecem longas linhas de arbustos; são as primeiras plantações de café importantes que temos encontrado, anunciando-nos a fazenda da Julioca, propriedade do major Koeller, filho do primeiro administrador e quase fundador da cidade de Petrópolis. 
     Alguns passos ainda e descemos na QUARTA MUDA.  





                                                                    JULIOCA
     Este pequeno edifício de pedras, assaz gracioso e original em suas formas, não prestou o serviço que dele se esperava; o movimento comercial nesta estação foi sem importância. Esta pequena casa avarandada que vemos, era em outros tempos a pousada de passagem do senhor Bulhões, engenheiro da estrada, quando fazia suas visitas de inspeção.
     Esta morada é muito pequena, porém encantadora. 
     Não é verdade que ali se viveria feliz com ela? Sobretudo se, mais venturosa que a Lisetta de Béranger, ela pudesse conservar sempre os seus vinte anos.
     Estamos no carro; correr mais depressa é difícil; descemos; à direita o Piabanha quebra-se em cascatas, transpondo por saltos sucessivos as diferentes camadas de rochedo que obstruem seu leito. Neste vale, tão ondulado e tão cheio de rochas desmoronadas, o sábio naturalista Agassiz achou os vestígios  de cascalhos de montes de gelo, que confirmam a célebre teoria do resfriamento do globo; pois tanto frio fez naquele lugar, como diz este grande professor, que não se pode negar que hoje a temperatura está longe de assemelhar-se à dos polos.
     Eis a ponte de Santanna; atravessamos ainda para a outra margem do Pìabanha. Esta ponte é enviesada, com grandes vigas e grades, com pavimento inferior e contravetement (peças oblíquas) superior; é a mais bonita de todas as que vimos e ainda veremos. Sua arquitetura faz dela um verdadeiro objeto de arte, elegante e leve.





     No tempo da sua construção uma das grandes vigas caiu no rio; imaginem o trabalho que foi preciso para retirá-la. 
     Estamos perto ou antes chegamos à QUINTA MUDA.

                                            LUIZ GOMES (OU CAMPO DA GRAMMA)
     Esta estação foi toda construída com madeiras: sistema americano. O interior é muito curioso; como solidez nada deixa a desejar, mas o preço elevado da mão de obra,  e ainda mais a dificuldade incalculável de se obter madeiras com facilidade, neste país de florestas virgens, pela falta absoluta de meios de transporte, há de restringir, e por muito tempo, a continuação desse sistema de construção.
     Entramos no Vale do Paraíba; a estrada é quase horizontal; estamos ainda perto de uma ponte sobre o Piabanha, que pela última vez vamos atravessar. Alguns quilômetros mais londe este pequeno rio irá levar o tributo de suas águas ao Paraíba. A ponte de que falo chama-se Carlos Gomes e é a última construída pelo engenheiro Bulhões, é de vigas tubulares e grades. Boa combinação do ferro empregado, leveza das vigas e força de sua construção. Mereceu essa obra de arte a honra de ser citada como modelo nas obras tecnológicas da Europa.





     Aqui estão longas linhas retas. As margens da estrada são guarnecidas profusamente de grandes e belas árvores. Vê-se ali grande quantidade de flamboyant. 
     À direita e à esquerda estendem-se várias florestas virgens e a vista abandona-se nessas cortinas de verdura. 
     Estamos enfim no Paraíba, nome derivado de duas palavras indígenas - Para-yba-  o qual toma nascença numa pequena lagoa na Serra da Bocaina, cinco ou seis léguas ao nordeste da cidade de Paraty, província do Rio de Janeiro.
     Vamos atravessar esse grande rio, sobre uma ponte de ferro de três arcos, de cinquenta metros de comprimento cada um; esta ponte, obra do engenheiro alemão senhor Keller, ultimamente encarregado de uma missão de exploração no interior do Império e atualmente na Europa, é um muito belo e seguro trabalho. É pena que considerações econômicas tenham feito sacrificar o aspecto monumental que lhe teria dado um maior pavimento e uma maior elevação acima da água. Apesar disto, é uma obra notável, tanto pela concepção quanto pela execução. A alvenaria fez e faz ainda a admiração das pessoas competentes.





     Um apito repercutiu  no ar. Um penacho de negras fumaças levanta-se acima de enormes edifícios de tijolos encarnados. Isso nos anuncia a Estrada de Ferro D.Pedro II, ponto de cruzamento das duas estradas. São onde horas e meia.
     Será porventura necessário dizê-lo?
     Neste momento, o que nos deve sobretudo interessar, segundo me parece, é que nos será possível almoçar e depois descansar. Só subiremos agora no carro depois da chegada do trem e ainda teremos de esperar sua hora de partida de costume, fixada a 1 hora e 55 minutos.
     Estamos no meio do caminho. O que pensais desta SEXTA MUDA?

                                                                    ENTRE RIOS
     Aproveitamos o momento de descanso que nos é dado, para dizer algumas palavras relativamente às rivalidades ocasionadas pelo cruzamento dessas duas estradas.
     Certamente estimas ver o progresso desenvolver-se nesse formoso país. E não foi sem experimentar viva emoção que temos saudado a primeira locomotiva que chegou até aqui; entretanto ficamos também penalizados vendo tanto trabalho, tanta inteligência e tantos esforços empregados  em um dos mais gigantescos trabalhos empreendidos  até então no Brasil, como esta magnífica Estrada União-Indústria, ficarem por isso mesmo inutilizados daí a pouco.





     O homem deve pois abandonar assim, o que lhe custou tantos cuidados e tantos sacrifícios para edificar?
     Defronte está a estação da estrada de ferro, maciça, pesada e, à nosso ver, pouco segura.
     Estamos certos de que os construtores desse edifício hão de desculpar a nossa franqueza, sobretudo quando souberem que podemos afiançar-lhes  ter visto essa construção tão bem construída aparentemente, não poder resistir a uma chuva um pouco mais forte; nem mesmo a uma ventania, sem que no dia seguinte haja necessidade de alguns consertos.
     No horizonte longínquo fogem as linhas das estrada de ferro, e o Paraíba anda vagaroso trazendo de nosso lado as suas ondas. Em breve vos faremos conhecer as suas curiosidades se este itinerário tiver a fortuna de vos agradar, caros leitores. As casas brancas que há um quilômetro perdemos de vista, são da fazenda de Cantagalo, propriedade da baronesa de Entre-Rios. Mais longe acha-se a cidade de Paraíba do Sul, inteiramente decaída de sua antiga importância, a estrada de ferro acabando de dar-lhe os últimos golpes.
     É 1 hora e 55 minutos. O condutor nos chama, subimos à diligência para continuar nossa viagem. 
     Desde Petrópolis, que é de 845 metros elevados acima do mar até aqui, onde não estamos mais que a 302 metros somente, descemos agora. Vamos subir a Juiz de Fora, a 721 metros. 
     Muitas v ezes subiremos e desceremos para atravessas as diferentes ramificações  da Mantiqueira e passar de um vale para outro.
     Estamos na Serra das Abóboras, que separa o vale do Paraíba dos do Paraibuna e Rio Preto. Ali penetramos por uma miniatura de túnel; depois de o haver transposto em um segundo, sendo este tempo mais que suficiente, apresenta-se à nossa ista um quadro bastante formoso. É a fazenda do finado Visconde do Rio Novo, Conde Palatino; a pequena capela que se destaca no azul do céu, no cume da colina,  termina o efeito do quadro.
     O Visconde, que residiu na Europa, introduziu na sua fazenda as máquinas e os aparelhos de cultura os mais modernos; seus produtos são expedidos diretamente para o velho mundo com a marca da casa; ainda uma prova evidente dos conselhos judiciosos do senhor Lages aos lavradores do Brasil.
     Todos os terrenos que vemos são de uma grande fertilidade. Podemos julgar pelas formosas plantações de café, milho, arroz e mandioca, que nos circundam e fogem atrás de nós. 
     Já descemos ao vale do Paraibuna. Uma encantadora amostra de floresta virgem nos proporciona uma sombra mais agradável. Em breve um largo rio, o Paraibuna, vai apresentar-se a nossos olhos. Ele serve de limite às duas províncias, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
     A propriedade que alcançamos à esquerda, pertence ao fazendeiro Antônio Rodrigues Pinto de Andrade, filho do falecido e honrado Barão do Piabanha. Jamais me será possível elogiar bastante esse fidalgo, tão querido enquanto vivo. Não tive a honra de conhecê-lo particularmente, porém tive a de ser apresentado a seus filhos! Pareceram-me justificar o adágio "tal pai, tais filhos".
     Tres minutos ainda e chegamos à SÉTIMA MUDA.

                                                                          SERRARIA
     A estação é construída em forma de chalé. Ela tem uma certa importância para a Companhia, por causa dos produtos que ali chegam de Mar de Espanha e até de Leopoldina.
     Uma pequena ponte de madeira, sistema americano, conduz o viajante à fronteira mineira. A estrada costeando e atravessando em três pontes diversas o rio Cágado, chega afinal à pequena cidade de  Mar de Espanha, situada a 32 quilômetros de Serraria.
     A ponte e a estrada foram feitas à custa da Companhia União-Indústria, cujo nome ainda por mais uma vez veremos ligado aos melhoramentos do país.
     De Serraria à Paraibuna seguimos constantemente o rio. A estrada é plana e sem habitações. Ela seria , na verdade, monótona, sem a vizinhança da água que parece ali estar à propósito para romper algum tanto aquela solidão. Uma avenida de bambus de quatro quilômetros  desperta nossa atenção para apresentar uma espécie de ogivas contínuas. Mais longe um pequeno bosque, onde a estrava vai serpenteando entre árvores e rochedos. Faria julgar estarmos passeando num parque inglês.





     A estrondosa e grande cachoeira do Paraibuna contribui para entreter o viajante nessa ilusão.
     à nossa esquerda eleva-se um velho casebre: a velha Paraibuna. Era outrora uma espécie de alfândega, onde se recebiam os direitos sobre o ouro e os diamantes que vinham de Minas. Ali, o intrépido Paes Lemes abriu uma passagem, no meio dessas solidões, e traçou a estrada entre os campos de Barbacena e a cidade de Paraíba do Sul. 
     À nossa frente levanta-se uma colossal pirâmide, a pedra do Paraibuna. Um imenso montão de granito, cuja parede vertical eleva-se de um só lance a mais de 400 metros de altura.
     Enormes pedaços foram se destacando dessa massa imponente e rolaram aqui e acolá. Alguns foram até o leito do rio e estorvando-lhe o curso formaram a ruidosa e selvagem Cascata do Inferno. Vamos chegar à décima estação. Antes de descer do carro permitam-me uma digressão. 
     A meia circunferência que se forma perto dessa pequena igreja, atrás dessas estrebarias, é o princípio da Estrada das Flores, lindo caminho de distrito cuja extensão é de 24 quilômetros. Ele segue o vale do Rio Preto. A Companhia foi auxiliada na execução dos trabalhos pela cooperação ativa dos proprietários limítrofes, que compreenderam perfeitamente as vantagens resultantes para eles de uma saída que semelhante via daria a seus produtos.






     Este caminho está concluído há muito tempo, disse o engenheiro encarregado de sua construção, o senhor Audermas. É sobretudo a esse amigo que devo as informações que me ajudaram a fazer este pequeno livro. Creio portanto dever aproveitar a ocasião que se oferece para lhe exprimir toda minha gratidão. Tanto mais que foi na sua casa, na Paraibuna, e seguindo seus conselhos que eu resolvi ser perseverante e prosseguir em outros trabalhos que logo serão publicados .
     Mas nós chegamos. Paramos 5 minutos na OITAVA MUDA.

                                                                           PARAIBUNA
     Derivado de três palavras da língua indígena - pará-ý-b'una-  grande rio de águas escuras- e devendo sua origem à junção dos rios Barros e Preto, Paraibuna forma um gracioso panorama. Nosso desenho, copiado da fotografia, representará melhor do que eu saberia fazê-lo com uma longa descrição. 





     Gostamos dessa estação! O posto dos soldados e o garbo dessa boa gente colocada à entrada da ponte. Contaram-nos que aquelas sentinelas eram encarregadas de guardar a fronteira que separa a província do Rio de Janeiro da de Minas Gerais. Fronteiras muitas vezes mais difíceis de transpor que a grande muralha da China.
     A grade que cerca a entrada da ponte fecha-se às 6 horas precisas da tarde. Ela somente se abre às 6 horas da manhã. É assim que, durante 12 horas, é proibido aos habitantes de uma província chegar no território vizinho , a menos que seja particularmente conhecido da sentinela. Ou viajante audacioso que, pisando em sapatos gastos, pule a famosa barreira, o que aconteceu a este vosso criado.
     Mas deixemos porém esses miseráveis vexames de um contribuinte atrasado. A estrada está aberta diante da diligência. Passamos para o outro lado dessa ponte de 100 metros de comprimento. Um talha-mar dos arcos dessa ponte é inteiramente construído sobre um rochedo.  
     A esta ponte liga-se uma página da história do Brasil. Em 1842, na época dos sanguinolentos acontecimentos de Minas, os rebeldes a incendiaram. Era ela então de madeira. Este fato foi por muito tempo exprobrado a um dos maiores vultos políticos do país.
     Ao sair dessa ponte, entrando na terra mineira, nossos olhares são paralisados por uma placa de mármore branco selada na rocha, que costeia a estrada. Sobre esta placa estão gravadas as belas palavras, proferidas por Sua Majestade D.Pedro II, na época da inauguração da estrada. Jamais tão nobre estímulo mereceu tanto ser transmitido à posteridade.
     Damos pois o texto:
     "Uma empresa cujo fim é a construção de uma estrada que ligue duas províncias tão importantes e que, continuando talvez para o futuro até às margens do segundo rio do Brasil, reunirá os interesses de seis províncias, de certo merece ser chamada patriótica.
     Afianço-lhe, pois, a continuação de minha proteção, e creio que não poderia melhor agradecer os sentimentos  de amor e fidelidade que acaba de me manifestar em nome da Companhia."
     Até a próxima estação pouco há de interessante. Lançamos um último olhar sobre o Paraibuna que acaba de receber o Rio Preto, não obstante ser mais considerável do que ele. Em breve vamos abandoná-lo para não mais o encontrar senão em Mathias, transformado em um simples regato.
     Não corremos mais com a mesma rapidez que há pouco. Ainda que nossa marcha seja acelerada, temos que contar 10 quilômetros. Por mais suave que seja a subida, as mulas sentem o serviço que lhes coube.
     Passamos a Rancharia. Esta pequena cidade nascida de ontem  é a mais importante conglomeração de casas que temos encontrado desde Petrópolis. Ela possui duas igrejas, um chafariz no meio da praça grande, um juiz de paz e eleitores. O que mais é preciso? dizia La Fontaine.
     Nossas mulas responderiam, se lhes fosse possível, que é o descanso que achamos na NONA MUDA.

                                                              SIMÃO PEREIRA
     Nada de muito importante; nada mesmo de curioso nesta estação. Seguiremos para Mathias.
     À nossa esquerda algumas casas cobertas de colmo; é um ensaio de colonização alemã tentado por um jovem fazendeiro, o senhor Dr.Duque, homem inteligente e entusiasta do progresso. Esperamos que esta tentativa de colonização será coroada de feliz êxito, posto que algumas experiências feitas em outros lugares com os mesmos elementos tenham tido funesto resultado.
     Atravessamos uma gargante elevada de 593 metros acima do nível do mar e descemos de novo para o vale do Paraibuna que havíamos deixado há 8 quilômetros atrás. Aqui está ele serpenteando por um valesinho costeado de verdes pastagens. Essa paisagem é graciosa como um idílio. Essa descansa a vista da dureza das brenhas e matas que há tanto tempo limitavam o horizonte.
     Esta fazenda é propriedade do barão de Bertioga; foi uma das primeiras onde se plantou o café. Constrangido e violentado, por assim dizer, o Barão, que tinha o nome plebeu de Silva Pinto resolveu empreender essa cultura, à qual deve sua colossal fortuna.
     O Barão era empregado do senhor Valle da Gama, zeloso propagador da nova planta, cuja importância tão bem adivinhava, obrigou o seu subordinado a plantá-lo no meio dos campos de milho, que constituía toda a produção agrícola daquela época. 
     Estes arbustos frutíferos, como os chamavam os fazendeiros rotineiros formam hoje, sem dúvida alguma , o mais produtivo ramo da fortuna do Brasil. 
     Ainda alguns grupos de coqueiros, formando graciosos quadros, que estariam em lugar apropriado no álbum de um artista, e chegamos à DÉCIMA MUDA.

                                                                       MATHIAS
     É uma antiga barreira, onde pagavam-se os direitos sobre o ouro e os diamantes vindos de Minas Gerais. Enormes quantidades desses preciosos minerais passaram neste lugar. A riqueza do país se apresenta hoje sob outras formas: carros enfileirados, carregados de café, de algodão e de outros produtos agrícolas provam suficientemente o que afirmamos.
     À nossa direita, um apequena cascata cai em alva espuma do alto de um rochedo. Porém subimos ao carro. O dia vai declinando e nosso condutor parece com pressa de chegar. 
     Passamos além do grupo de casas que formam o lugarejo de Mathias, atravessamos uma zona onde nada de interessante se apresenta à nossa vista, depois atravessamos o Piabanha sobre uma ponte de madeira d estilo antigo, que difere muito das que temos visto. Esta ponte se chama de Zamba. Foi construída para a antiga estrada de Minas e foi utilizada para a passagem da nova.
     Subimos um declive suave e contínuo: é a passagem da Marmela. A estrada gravada de distância em distância num granito porfiróide  costeia os flancos da montanha e vê-se um abismo onde o Paraibuna quebra-se em cascatas.
     Ela contorna também eminências arredondadas e deixa-nos ver por momentos encantadores panoramas. A subida da Marmela é, depois da passagem do Taquaril, o lugar mais pitoresco e também o mais caprichoso. E é também o que custou maiores despesas para a construção da estrada. Chegamos à PENÚLTIMA MUDA.

                                                               PONTE AMERICANA
     Enquanto mudam as nossas mulas, examinemos o sistema de construção dessa ponte. Ainda que feita com materiais de pequenas dimensões, é notável por sua solidez e à facilidade que oferece. 
     No Brasil esse meio merece ser generalizado, em razão da grande abundância de madeira de construção de excelente qualidade e que, apesar disso, são na maior parte das vezes queimadas no desbravamento, por falta de emprego imediato.





     Encaminha-mo-nos para Juiz de Fora. Alcançamos o alto da garganta da Graminha, elevado à 745 metros acima do nível do mar. É o ponto mais elevado que temos encontrado desde Petrópolis.
     Essa passagem foi escolhida para evitar o grande desvio feito pelo rio que serpeia soba a nossa vista. Depois de uma descida assaz rápida, vamos transpor a última ponte construída em nosso caminho. Esta ponte chama-se João Carlos. É de arcos de madeira. Esta obra é toda do francês senhor Flagelat, engenheiro das minas, neste tempo vindo da França com licença temporária para o serviço da Companhia. Recomendamos esta obra às pessoas competentes.
     Em torno de nós surgem algumas habitações, sentinelas avançadas de Juiz de Fora. O vale alarga-se: vamos chegando. À nossa esquerda, o cemitério com sua capela. Os monumentos funerários que a rodeiam são de tijolos.
     Defronte de nós levanta-se o rochedo chamado Alto do Imperador. Abaixo a cidade com sua longa linha de casas.
     A diligência pára num grupo de gentes e de carros. São os empregados dos dez ou doze hotéis que vêm recrutar os viajantes. Alguns apeiam-se. Nós vamos mais longe. Estamos na rua do Imperador. É costeada por casas novamente edificadas. Este progresso é ainda devido à Companhia.






     Este lugarzinho é hoje o empório comercial de Minas Gerais e um pouco do Goiás.
     Dois quilômetros mais à oeste e chegamos à ÚLTIMA MUDA.

                                                      ESTAÇÃO DE JUIZ DE FORA
     Há, na elevação à nossa direita, um lindo castelinho, propriedade do finado senhor Lage, graciosa amostra do estilo renascentista italiano. Este castelo é rodeado de um parque desenhado, plantado e conservado com um gosto que nos dá a ideia do que devia se o proprietário: tanques de água límpida, onde nadam belos cisnes brancos e pretos, ilhas de bambus, viveiros naturais onde cantam e gorjeiam milhares de pássaros, jardins cheios de flores as mais curiosas e as mais raras plantas de interesse particular tornam este domínio um pequeno paraíso terrestre.
     Em junho de 1861 a família imperial aí residiu. Nada poderia descrever a magnificência das festas dadas pelo senhor Lage à seus augustos hóspedes.
     Como fotógrafo fazia parte dos convidados. Já tinha assistido a muitas festas deste gênero e nunca tinha presenciado uma festa tão deslumbrante.
     Depois de 1861 o Imperador, por  vezes, honrou este domínio com sua presença.
     A todo viajante o senhor Lage deixava visitar com benevolência este pequeno éden se tivesse a felicidade de encontrá-lo. Encarregava-se com a melhor vontade em servir de cicerone.





     Defronte do castelo estão os edifícios da estação, escritórios e armazéns. Atrás estão as cavalariças. À esquerda, na eminência, acham-se as oficinas e suas dependências. Na margem da estrada, entre a estação e o hotel, um edifício de balcão estilo de chalé, que serve para alojar os hóspedes ilustres que a Companhia recebe frequentemente.
     Na praça defronte do castelo vê-se uma igrejinha. Nada de extraordinário na sua  construção e decoração. Na colina à esquerda, as habitações dos empregados da Companhia. Depois o Hotel União. Vamos ver se ali pode-se jantar. 
PS: Este estabelecimento é um doa mais bem organizados. Acha-se ali tudo que se pode desejar, da mesma maneira que nos melhores hotéis da Europa. Infelizmente o tempo e os meios faltar-me-ão para dar aqui um desenho desse edifício. Ali há banhos quentes, frios e de chuva, bilhares, piano, salões de leitura e de conversa, jardins, parques e varandas. Situado sobre a primeira vertente da Serra da Mantiqueira, esse lugar goza de um clima salubre e temperado.
     Amanhã, depois do passeio obrigatório no jardim dos senhor Lage, não esqueçamos a colônia D.Pedro II, florescente aldeia fundada pela Companhia. Depois iremos ver também a escola agrícola com sua curiosa e interessante coleção de instrumentos aratórios e seus animais raros.
     Depois, se o passeio à sombra das grandes árvores tem atrativos para vós, iremos visitar a bela cascata que forma o fundo do quadro da paisagem que rodeia a estação. Veremos o bosque dos príncipes com sua lagoa tranquila e sua cascata murmurante; o bosque da Imperatriz no meio de um a floresta de palmeiras e, como remate, o Alto do Imperador, de onde paira-se sobre um horizonte imenso.
     Descobriremos todas as ramificações da Mantiqueira (antigamente esconderijo de salteadores) e sob nossos pés,  como infinitamente pequenos,  o formigueiro que se agita sem ruido sob o nome de |Juiz de Fora.






                                DO RIO DE JANEIRO À PETRÓPOLIS POR ENTRE RIOS
                                      ESTRADA DE FERRO DE DOM PEDRO II
     A estação é situada no Campo de Santana. Há tílburis no interior da cidade para conduzir os passageiros. O preço é de 500 réis. Os carros de 4 rodas custam 2$000.
     Também há bondes que tomam-se no Largo de São Francisco de Paula. Custam 200 réis por pessoa dali até a estação. 
     Os trens do caminho de ferro partem todos os dias às 6 horas da manhã. No sábado há trens de passeio que partem ao meio-dia.
     Os preços das passagens acham-se nas tabelas colocadas na sala de espera. 
     Em Entre Rios o trem pára um hora para que os viajantes possam descansar e almoçar.
     Um hotel perfeitamente organizado corresponde a todas as necessidades das pessoas que querem ir até aí.
     Para os que devem ir adiante, isto é, à Juiz de Fora ou à Petrópolis, a diligência sai meia hora depois do meio dia para chegar a um ou outro lugar do destino pelas 6 horas da tarde.