Bom dia a todos!
Como em breve nosso jornal "O Município" estará fazendo aniversário (e muito especial dessa vez!!! ) temos sido brindados com artigos muito interessantes para qualquer um que um dia tenha tido a oportunidade de viver em Bicas ou até mesmo de visitá-la. Principalmente para aqueles que, tendo migrado para outras cidades, estados ou países, guardam dela apenas saudosas lembranças.
Sendo assim, resolvi dividir com vocês essa matéria publicada no último número do jornal, aquele de número 2.588, publicado em Janeiro de 2016.
Cresci ouvindo as histórias que minha mãe tinha para contar que tinham como pano de fundo esse cenário tão bem descrito abaixo. E ainda teria o que acrescentar! Como não compartilhar com vocês?
Biquense ausente, sinta-se de novo em casa! Desfrute de suas memórias aqui, juntinho comigo. E boa viagem no tempo!
ARQUIVOS PESSOAIS ANTIGOS, SEM DISCRIMINAÇÃO DE FONTE. ESSA FOTO É A MAIS ANTIGA QUE TENHO DO CINEMA BIQUENSE. |
CINE THEATRO SÃO JOSÉ
Para falar do nosso saudoso "CINE THEATRO SÃO JOSÉ", basta apenas dar uma volta ao tempo e deixar-se ir pela imaginação para poder resgatar essa nostalgia, bem lá no fundo do túnel, pra que possamos viver um pouquinho dessa fantástica fábrica de "faz de conta" que é, e que sempre foi o nosso querido e inesquecível cinema de Bicas. Quantas lembranças nos trazem os lindos momentos que o cinema de Bicas nos proporcionou. A televisão na época, dos anos 60, era privilégio apenas dos em sucedidos financeiramente. Essa regalia ainda demorou um bom tempo chegar às casas dos menos favorecidos. E assim, eu como tantos outros da minha idade, fomos sem dúvida os protagonistas dessa magia que era curtir um cineminha, desde as inesquecíveis matinés aos domingos, às 10hs, como também as sessões das 18hs e 20hs, quase sempre lotadas. Simplesmente porque não havia outra diversão. O entusiasmo e as novas descobertas sempre falavam mais alto. Quando chegava um enorme cartaz anunciando um filme novo, despertava nossa atenção e ao passarmos em frente ao cinema, acompanhávamos o Chicão a fixar os cartazes, pregando com taxinhas nos quadros fixados nas paredes as fotos, onde se via estampadas algumas cenas dos filmes. Só isso já era gratificante, estar ali debruçado em uma das cancelas, vendo e acompanhando passo a passo o trabalho do Chicão, que também pintava faixas e cavaletes com propaganda dos filmes e os levava para serem afixados em frente às oficinas da Leopoldina, no jardim da Igreja São José e em outros locais de movimento de pessoas. O Chicão também trabalhava nas oficinas da Estrada de Ferro Leopoldina e nas horas de folga consertava os nossos fuscas. Uma das coisas que nos chamava a atenção era quando se lia no cartaz do filme: CINEMASCOPE TOU TECNICOLOR". Porque já era de nosso conhecimento e já sabíamos que os filmes seriam coloridos e seriam também tela inteira, conhecida tela panorâmica. A mesma atingia uns 6 metros, ou talvez até mais do que isso. Era realmente fantástico ver as longas e pesadas cortinas se abrirem dando lugar à imagem projetada na tela branca, . A projeção era um trabalho do funcionário Gote (Iguatemi Índio do Brasil), que durante o dia trabalhava na Fábrica de Calçados Almirante. Antes do início, enquanto se esperava abrir as cortinas, ouvíamos sempre músicas suaves, quase sempre uns boleros cantados por Gregório Barrios, Pedro Vargas e outros. Como era gostos chegar atrasado, ao som do jornal esportivo do Canal 100, onde tínhamos a oportunidade de ver um trecho da partida de futebol entre Botafogo e Flamengo, realizada na semana anterior, e ter que procurar no escurinho do cinema um lugarzinho vago entre uma cadeira e outra, permanecendo sempre abaixado para não atrapalhar os que ali já estavam com os olhos grudados na tela. Pois nem sempre o lanterninha se fazia presente para nos acompanhar até o suposto assento vago. Os eternos apaixonadas namoravam sem se preocuparem com o que estava sendo exibido. Bastava um estalo de bolas de chiclete para que se formasse um coro de pedidos de silêncio. Quanta lembranças nos trazem os casais de namorados, onde reinava o cavalheirismo, comprando os ingressos com o Dalton Retto, com o Décio ou com o Duílio. Na portaria, recebendo os ingressos, estava o senhor Chico Retto ou o senhor Gentil de Almeida, sócios do Cinema, muito gentis e cavalheiros, sempre acompanhados por um fiscal de menor que, quando tinha algum caso complicado, recorria ao Delegado, Bacharel José Maria Veiga, que em poucos minutos resolvia o problema e mandava colocar uma pedra por cima. Bons tempos dos filmes de faroeste com John Wayne, Kirk Douglas, Marlon Brando, Robert Mitchun, Gregory Peck, Roy Rogers, Jesse James, Tom Mix e o baixinho e rápido no gatilho, o ator Audie Murphy. Esses eram uns de nossos preferidos, onde os índios sempre levavam a pior nos ataques a diligência. Os filmes de romance ficavam por conta de Rock Hudson, Marlon Brando, Debora Kerr, Tyrone Power, Ingrid Bergman, Ava Gardner, Elizabeth Taylor, Gina Lolobrigida, a linda loirinha Brigitte Bardot, Claudia Cardinalli, Rachel Welch, a sedutora Marylin Monroe e outras atrizes como Sophia Loren e Rossana Podestá, atuando quase sempre em filmes épicos. Elizabeth Taylor também tinha seus papéis em muitos filmes ao lado de Richard Burton, seu marido na vida real, e outras mais que passaram pelo nosso cinema, que seria impossível lembrar-se com exatidão de todas. Geralmente os filmes eram com legendas, dando-nos oportunidade de aprendermos um pouquinho do nosso português, as quais vinham escritas no rodapé das cenas, forçando-nos a uma leitura rápida, para poder então entender o desenrolar da trama. Mas tudo era original! Até mesmo o nosso entusiasmo ao ver, desde Gordon Scott e Steve Reeves, exibindo seus músculos avantajados, como Jerry Lewis todo atrapalhado contracenando sempre ao lado de Dean Martin, levando ao público boas gargalhadas, e a macaca Chita em suas aparições na maioria dos filmes de Tarzan; também eram exibidos os filmes de Mazzaropi, Oscarito, Grande Otelo e do Gordo e o Magro. Não era como nos dias de hoje, que temos opção no DVD, legendados ou em português. De um lado do cinema fixava o famoso bar da dona Tereza Lagrota e do outro lado a tão cobiçada bombonière da Donana, esposa do Capitão Azziz Gabriel, onde se comprava os famosos drops e os chicletes Ping-Pong, tutti-fruti e hortelã, além das famosas balas Pipper; em frente ficava a carrocinha do pipoqueiro. Uma hora antes do início das sessões formava-se uma enorme fila para compra de ingressos, que se estendia mais ou menos até o casarão do Coronel Joaquim José de Souza, onde hoje localiza-se a agência do Banco do Brasil. Também se formava uma fila paralela para a entrada no cinema.
ESSA É A FOTO QUE ILUSTRA O ARTIGO AQUI REPRODUZIDO. TAMBÉM NÃO PRECISA A DATA, MAS JÁ PODEMOS NOTAR A DECADÊNCIA DO EDIFÍCIO, ANTES DO OCASO FINAL. INFELIZMENTE. |
Todos que viveram nessa época foram testemunhas também do movimento de pessoas que ficavam transitando em frente ao cinema, num vai e vem entre o jardim da Igreja e a travessia da linha do trem, no início da Rua dos Operários. O famosos "footing" onde, quase sempre, começavam os namoros. Essas eram as emoções de um tempo que ficaram para sempre perdidas no seu próprio tempo, talvez na esperança de que, um dia, alguém possa reerguer um pouquinho desse nosso passado para a nossa querida cidade de Bicas. E por que não, sonho de alguns, poderem presenciar, mais uma vez, as antigas portas do nosso CINE THEATRO SÃO JOSÉ se abrir novamente, nem que seja em outro local, pois o antigo imóvel onde funcionava o cinema foi demolido. Porque, reverenciar o passado é uma forma de agradecer a Deus pelo presente e nos reconciliarmos com nós mesmo, o nosso futuro.
Antônio S.C. Calvário
(Tonico da dona Minervina)
Parabéns Marly, outra arte que nos trouxe tantas alegrias. Provavelmente nossa tia-avó Lydia Bonimond Mouty tocou piano em um desses cinemas, ainda na época dos filmes mudos. bjs... Lalá.
ResponderExcluirCom certeza, Lalá! Sempre que escuto ou vejo referências ao cinema antigo de Bicas me lembro disso.
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