Certamente vocês haverão de perguntar o porquê dessa homenagem num blog de franceses... Mas, se você conhecesse minha BICAS natal e toda sua redondeza (MARIPÁ, GUARARÁ, ROCHEDO, TARUAÇÚ, CARLOS ALVES, PEQUERI, ARGIRITA, SENADOR CORTES, etc...etc...), saberia que há mais de um século fomos "invadidos" por sobrenomes italianos. Invadidos tanto no sentido da terra que os recebeu, quanto na total miscigenação com "os da terra" e com imigrantes de outras origens. Daí sua importância para todos nós.
Hoje, se nos dispuséssemos a destrinchar esse emaranhado, verificaríamos que, ainda que nossos franceses, por serem poucos, tenham sido quase que totalmente absorvidos pela comunidade local, se considerarmos a história genética, ou genealogia de cada "oriundi", cruzaríamos com boa parte deles, como, por exemplo: GUGLIELMINI, GATTI, BERTELLI, MCHELI, GIRALDELLI, VENTURELLI...
Além dos laços familiares, estabelecemos também, entre nós, todo tipo de trato comercial e dividimos as mesmas dores, as mesmas experiências e tivemos que dispor da mesma força para conseguirmos nos estabelecer nessa terra que hoje também é nossa.
Por tudo isso venho hoje aqui homenageá-los, reproduzindo o excelente texto do grande entendedor dessa saga, tal qual o foi nosso saudoso JÚLIO VANNI: JOSÉ LUIZ MACHADO RODRIGUES. O texto abaixo foi publicado no exemplar de número 2.588 de nosso Jornal "O MUNICÍPIO", responsável em grande parte pela possibilidade de resgate de tantas histórias.
Para vocês, transcrevo:
FONTE: A.C.NARDINI - FACEBOOK. |
AOS IMIGRANTES ITALIANOS E SEUS
DESCENDENTES
Por conta do 21 de Fevereiro - Dia Nacional do Imigrante
Italiano
Tenho 100 anos mas guardo e vejo o passado com a nitidez do presente. Minhas folhas são testemunhas de que eu vi trabalhando nas fazendas e sítios ou, andando pelas ruas empoeiradas da cidade, muitos estrangeiros. Principalmente uns de pele clara, olhos azuis e que se destacavam pelo seu costumeiro falar gestual. Pessoas que se apresentavam, na zona rural ou nos balcões das casas de comércio, como imigrantes italianos. Alguns deles chegados um pouco antes de meu lançamento, para substituir o braço escravo na lavoura. Outros, atraídos pelas possibilidades do florescente "comércio" que se desenvolvia no entorno da estação ferroviária.
Minhas páginas antigas registram um pouco da história dessa gente. Mas lhes recordo agora por ser da índole desse Jornal preservar a história da cidade. E esta, em particular, é uma história bonita que merece ser repetida para permanecer viva na memória dos descendentes.
A necessidade de buscar o braço imigrante surgiu a partir do fortalecimento da ideia de libertação dos escravos. Chegou um tempo que fazendeiros do Brasil sentiram que a libertação de todos os escravos viria pelo mesmo caminho que deu na liberdade dos maiores de 60 anos e decretou a Lei do Ventre Livre. Para eles, sinais evidentes de que a escravidão se exauria.
Como a lavoura dependia de muita mão de obra, tornou-se prioritário encontrar uma alternativa para sua substituição. E a opção surgida, incentivada e até financiada pelo governo brasileiro, foi a imigração. Abrir as portas para os imigrantes.
E a propaganda, feita de forma intensa na Itália, dizia da existência aqui no Brasil de terras férteis e baratas, o que fez crescer o fluxo de italianos para cá. "Fare l'america" (fazer a América) como se dizia aqui no Brasil, virou o sonho d emuitos italianos.
A Itália, por sua vez, atravessava um período de grandes dificuldades e, segundo consta, as intempéries e a chegada do capitalismo no meio rural, responsável pela concentração de terras nas mãos de grandes proprietários, castigavam algumas regiões.
Diante dessa realidade o incentivo italiano à emigração de parte de sua população se tornava interessante. E a conjugação destes fatos foi, segundo Thomas Sowell, citado por Rosalina Pinto Moreira, historiadora da cidade de Astolfo Dutra (MG), em seu livro "Imigrantes - Reverência", 1ª edição, página 24, a grande responsável pelos " doze milhões de italianos que emigraram, principalmente para as Américas, no maior êxodo de um povo na história moderna.".
Eu vi, com os olhos da jornal, estes imigrantes e seus filhos crescerem por aqui. O crescimento natural da idade e o que faz de um indivíduo um cidadão destacado. Eram os Agrelli, Arezzo, Barino(a), Bellei, Bertelli, Bolotari, Calzavara, Colaci, Conti, Cortat, Crecembeni, Croce, Cúgola, Cúrzio, Drominetta, Favero, Ferrari, Ferri, Gianini, Granado, Guarnieri, Lanini, Longo, Marôco, Minateli, Padula, Ranna, Retto, Rossi, Schettino(i), Sroppa, Tagliatti, Temponi, Tresse, Trezza, Varanda, Verlangieri e muitos outros que certamente o leitor lembrará. Cidadãos que ajudaram e ajudam Bicas a crescer.
Vi muitos deles se tornarem bons industriais, comerciantes, empresários de uma maneira geral, artesãos, profissionais autônomos ou, trabalhadores diferenciados de seus pares pela disposição para o trabalho e pela conduta retilínea.
E eu acompanhei um desses descendentes de imigrantes, o inesquevível doutor Vicente Bianco, nascido na vizinha Maripá de Minas e que viveu boa parte de sua vida em Bicas. Um legítimo "oriundi" que bacharelou-se em Ciências e Letras em 1908 e, em seguida concluiu o curso de medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na então capital federal, foi professor e vice-diretor do Ginásio Pio Americano por algum tempo. Retornando a Bicas, assumiu as funções de professor, inspetor escolar, gerente de banco, funcionário da Estrada de Ferro Leopoldina e durante muitos anos, médico respeitado e querido por todos. Foi o primeiro agente executivo (prefeito) e presidente da câmara, prefeito e duas vezes vereador. E, além de ter sido um homem público respeitado e um grande líder político, foi um dos responsáveis pela emancipação do município de Bicas. "Gigante da Emancipação", registra Fued Farhat em seu livro "Recantos da Mata Mineira". Oriundi da gema. Filho do comerciante de "secos e molhados" Francisco Bianco, que nos faz lembrar os tempos da roça:
- Menino, corre no valo e prende o cavalo. Arruma a charrete, antes das sete. Se ajeita no banco. Vai no Chico Bianco e compra fiado, um bico de arado, macarrão espaguete, sal, isqueiro e canivete. Na padaria do Varanda, de boa quitanda, veja se acha: cubu, cavaca e bolacha.
José Luiz (Luja) Machado Rodrigues - 02.01-16
Pois então... O Julio Mouty, nosso tio-avô, se casou em Bicas com Amélia Sarto, descendente de italianos, porém não encontramos mais nada sobre ela. Conhece? Parabéns amiga, bela homenagem. bjs... Lalá.
ResponderExcluirNão, Lalá... Sei que a família Sarto ainda anda por lá, mas nem sei afirmar se é a mesma. Suponho que sim. Na verdade, recentemente dei uma pequena entrevista/suporte para o José Luis Machado Rodrigues (Luja) sobre os imigrantes franceses em Bicas e sua miscigenação com os italianos. Deverá sair no exemplar desse mês e, se de fato acontecer, publico aqui para nós todos, tá bom?
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