Todos vocês sabem de minha paixão pela SERRA DO PILOTO e tudo que ela representa para nossa história em geral e, ainda que tocando de leve, para a história de nossos antepassados franceses. Mas vamos combinar que ela é importante por muitos e muitos outros motivos. Por isso resolvi reproduzir aqui, na íntegra, uma excelente postagem do dia 07/02/2021, no FACEBOOK, que tive o prazer de encontrar no perfil O BELO E HISTÓRICO RIO DE JANEIRO. Tenho certeza de que vocês irão amar! E, caso use essa rede social, vá visitá-la. Tem muito a oferecer aos amantes de HISTÓRIA. O texto é de HUGO DELPHIN. As fotos que o ilustram também foram feitas ou pesquisadas por ele em suas fontes originais. Vamos lá?
Também chamada de Estrada Imperial de São João Marcos, é considerada por alguns historiadores como a primeira verdadeira estrada de rodagem do Brasil, mas há controvérsias. Contava com calçamento macadamizado, um tipo de pavimento para estradas criado pelo inglês John Loudon McAdam (três camadas de pedras postas sobre uma fundação com valas laterais para escoamento), além de marcações de distância em léguas, largura padronizada (6,60m - três braças craveiras), várias pontes arqueadas, galerias, muros de arrimo, muretas laterais e etc., além de possuir o primeiro (ou um dos) pedágio do Brasil. Foi de fato a primeira estrada privatizada e talvez a primeira macadamizada.
O engenheiro responsável pela obra foi o inglês E. B. Webb (ver imagens dos mapas e relatórios em anexo) e ela foi inaugurada em 1857. Mas a Estrada de Mangaratiba, antes com alguns trechos diferentes do atual traçado, foi aberta inicialmente pelo Comendador Joaquim Breves em 1833. Esses trechos antigos se chamam Estrada do Atalho. Essa antiga versão da estrada era toda areada e se deteriorava facilmente com as fortes chuvas e com o trânsito intenso de tropas e mercadorias.
A Serra do Piloto: Recebe esse nome em homenagem a João Cardoso de Mendonça e Lemos, que foi o primeiro "piloto de cordas" do Senado do Rio de Janeiro, que era o topógrafo ou agrimensor de hoje. João Cardoso de Mendonça e Lemos recebeu a sesmaria em 27 de agosto de 1800, onde estabeleceu a Fazenda do Piloto. A Estrada de Mangaratiba corta esta serra, ligando o povoado da Praia do Saco a extinta São João Marcos, apesar do projeto inicial prever seu início na Vila de Mangaratiba (ver mapa em anexo). Essa região que ia de Mangaratiba até São João Marcos foi uma das maiores produtoras de Café do século XIX.
Segundo um artigo de Aloysio Breves, no Site Breves Café, achou-se necessário reivindicar melhorias ao governo da província, que em 1850, autorizou Bernardino José de Almeida a fazê-las. Em 1855, com o não cumprimento total da obra por parte do mesmo, além de seu falecimento, foi assinado um novo contrato com o Desembargador Joaquim José Pacheco, criando então uma companhia de sociedade anônima, chamada Companhia Estrada de Mangaratiba. Esta companhia, com capital inicial de 2.400 contos de réis, teve como seus principais acionistas o Tesouro Fluminense com 1.500 ações, Barroso & Irmãos com 650, comendador Joaquim Breves com 400, assim como os Morais, do Barão de Piraí. A estrada deveria ir até Barra Mansa, passando por Rio Claro, mas esgotados os investimentos iniciais, a empresa logo faliu. O percurso total ficou em aproximadamente 30 km, ligando o Porto da Praia do Saco a São João Marcos. O movimento diário da estrada era de 70 caleças, o que denota grandes trocas comerciais, assim conclui o artigo. A empresa faliu antes de uma década e revirando notícias antigas, encontrei diversos indícios de má administração e, talvez, de corrupção por parte da Companhia Estrada de Mangaratiba.
O jornal O Portuguez em 1862, assim descrevia a situação:
"...as estúpidas, onerosas e lucrativas gerencias que precipitaram a companhia da Estrada de Mangaratiba nos abismos de uma falência"
O periódico Actualidade, em 1860, foi mais claro quanto a situação:
"...empresa mal calculada e concebida, foi por certo a da Estrada de Mangaratiba. O erro da concepção foi por certo agravado pela má gerencia da companhia. Acusações gravíssimas foram feitas pela imprensa e até hoje esperam resposta pela resposta. O que é certo é que avultados capitais foram dispendidos, fez se apenas um trecho de cinco léguas e a companhia sentiu-se arruinada"
Mas logo foi decretada uma lei para que a Estrada de Mangaratiba fosse encampada pelo governo imperial e, em 1878, diversas propriedades da Companhia foram a leilão. Um interessante anúncio do leilão no Jornal O cruzeiro, em 1878, descrevia as propriedades:
"Estações de Mar e Trapiche: Um grande cais cercado de cantaria com grande armazém corrido, construído de pedra e cal, paredes de grande grossura, madeiramento de primeira qualidade e em bom estado, coberto de telha. Adiante um outro armazém menor da mesma construção. Na beira da estrada tem um grande armazém, coberto de telhas, em ruínas, com larga paredes de pedra e cal. Estes três armazéns estão dentro de uma área de 200 braças quadradas (...) Barreira da Serra: Casa edificada a beira da Estrada de Mangaratiba que serviu para a cobrança dos direitos da barreira, e um telheiro ao lado, coberto de telha. Ambas edificações precisam de reparo (...)
Fazenda de Santo Antônio da Ingaíba: É de magníficas terras para plantação e com grandes pastos. Distanciando somente uma e meia léguas da Vila de Mangaratiba, para a qual terá fácil comunicação (...)
Estação de São João do Príncipe: São dois armazéns, um coberto de zinco, construído de pedra e cal e boas maneiras; outro coberto de telha, em bom estado de conservação, dividido em três grandes cômodos para moradia (...)
Casa do Largo do Rosário: É uma grande casa construída para moradia, bem construída e dividida para duas moradas (...)
Estação do Cará: É um grande armazém edificado na Estrada de Mangaratiba, coberto de zinco, com paredes de pedra e cal de grande grossura..."
Apesar da falência da Companhia Estrada de Mangaratiba, a mesma continuou sendo utilizada, escoando principalmente grandiosas safras do café produzido serra acima.
Passada algumas décadas, a verdadeira decadência alcança a região, com o início da era ferroviária. Com o alto custo de pedágio e tempo maior de viagem em relação aos trens, a estrada foi perdendo sua importância. Fato que se agravou com a abolição da escravatura, pois o povoado da Praia do Saco, assim como toda a vizinhança tinham suas economias baseadas na escravidão / cafeicultura.
A Estrada Imperial hoje é denominada RJ-149 (Rodovia Luiz Ascendino Dantas) e nela se encontram diversos vestígios históricos, verdadeiras obras de arte! É o caso do Bebedouro da Barreira, todo em cantaria, onde era cobrado o pedágio, além da magnífica Ponte Bela, o mirante imperial frequentado por Dom Pedro II e muitas outras belezas.
A região é linda demais e merece uma visita
Nas imagens a seguir mais um pouco dessa história.
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