terça-feira, 18 de junho de 2013

PENSANDO SOBRE A IMIGRAÇÃO

     Trago hoje para vocês as reflexões de ISABEL (AUDEBERT) PINTO sobre a questão da imigração. É interessante que todos pensemos, ainda que as conclusões a que cheguemos nem sempre sejam as mesmas. Aliás, nem sei se a História, com "H" maiúsculo, tem "conclusões". É  sempre "a vista a partir de um ponto". Ou, como costumamos apelidar, "um ponto de vista". Por isso vamos coletando aqui e ali, árduamente, fotos, cartas e documentos. Para ao menos nos aproximarmos da visão do que de fato consiste o drama da imigração. A que se mantém até nossos dias e a de nossos antepassados franceses do Périgord. Obrigada por dividir conosco suas percepções, ISABEL. Boa leitura a todos!


        "A partir de 1870, com o comércio internacional do café e o acúmulo de capitais oriundos desta atividade, muitos fazendeiros brasileiros (cafeicultores) buscaram imigrantes em toda a Europa e, para tanto, conseguiam enormes quantias do governo brasileiro para subsidiar a mão-de-obra assalariada.
         É sempre bom lembrar que até 1850, quando ocorreu a vedação de contratação de imigrantes sem famílias,  para cá vieram muitos mercenários - condenados na Europa. Uma ralé - se é que podemos dizer assim - da pior espécie, que não costuma ser mencionada nos "artigos genealógicos". Mas, essa é outra história, afinal o nosso país acolheu degredados por mais de 300 anos. Só era permitida a introdução de imigrantes com suas famílias, geralmente pais, irmãos e filhos
        O certo é que no ciclo do café, tais fazendeiros foram subsidiados pelo governo imperial.  As quantias que recebiam eram altas, suficientes para que custeassem as passagens dos imigrantes e suas famílias nos navios - embora de terceira classe - além do transporte para as fazendas. 

                                              
                                      FONTE: WEB
       

     Eu consegui os relatórios das despesas do governo de 1880 em diante com os imigrantes. Uma fábula. O Império estava se desmoronando. Os "barões do café" (que adquiriram o título pagando caro) contrataram muita gente.
       Na verdade, veio muita gente de Portugal mesmo. Mas, ninguém fala disto. Um pouquinho portugueses nós também já éramos. 

                                            
                     GLI EMMIGRANTI - de ÃNGELO TOMMASI - 1895

 Quando meu bisavó português (MANOEL PEREIRA GOMES)  veio para cá, em 1870,  no mesmo navio havia cerca de 88 portugueses imigrantes. 
      O Brasil é assim. 
      Até hoje, embora em 1930 o governo tenha cortado qualquer  subsídio, a imigração não parou.
     Recentemente, vi uma matéria sobre a "mão-de-obra" dos bolivianos (cerca de 300 mil no Brasil -  50 mil só em São Paulo). Tratava do trabalho escravo nas lojas e fábrica de roupas de São Paulo. 
     Eles são explorados por quem? Pelos coreanos..... Imigrantes que começaram a chegar aqui por volta de 1960 e já são mais de 40 mil só em São Paulo.
     Nova "onda" imigratória bem recente é dos haitianos - todos refugiados - que ao chegar em nosso solo, recebem não só uma carteira de trabalho, como dinheiro, alimentação e hospedagem, ainda que precárias. 
     Recentemente, soube que um supermercado de Brasília contratou 5 haitianos. Na mesma ocasião, teria demitido pelo menos uma funcionária (brasileira), com a justificativa que deveria abrir mais vagas para os estrangeiros. Se  verdadeira a informação há sério risco de um impacto no mercado de trabalho.
    Deixo registrado, que pessoalmente não tenho nenhum preconceito.
    Não apoio nenhuma ideia de expulsão, como a que ocorreu na França em 2011, com a expulsão de mais de 32 mil imigrantes.

    Enquanto que os EUA e a Europa estão expulsando novos imigrantes, o Brasil tem sido visto como novo destino para melhores oportunidades de trabalho, tanto para estrangeiros que possuem propostas profissionais quanto para os que não possuem proposta e nem visto para entrar em nosso país.
   QUE VENHAM!!!!!!!!!!!
   Já era assim no passado.
   O que eu não gosto é que o nosso país ainda seja retratado por algumas "potências europeias", como uma grande SENZALA. Não é verdade! Existe trabalho escravo?  Claro que sim, mas essa não é uma chaga brasileira. Basta ver nos relatórios da OIT. 
  No nosso país, ainda tem muito trabalhador safrista sendo recrutado para ganhar abaixo do salário-mínimo, vivendo em galpões sem higiene e, em péssimas condições. Várias denúncias do Ministério Público são feitas todos os anos.  
  Mas, e na Europa? Ano passado a BBC informou que aproximadamente 270 mil pessoas eram vítimas de trabalho escravo na Europa. 
  Enfim, nosso país não está sozinho.
  Só para descontrair, eu também sou uma migrante. Não foi minha opção. Mas, de meus pais.   
  Pai potiguar, que morou no Rio de Janeiro por mais de 25 anos,  "apostou" na NOVA CAPITAL:  BRASÍLIA.
  Meu pai contava que, quando optou por morar definitivamente em Brasília, seus colegas do Rio diziam que ele ia virar "índio", que iria comer "muita poeira". 
  Ele veio com a família toda.  Chegamos aqui a tempo para comemorar os 15 anos da cidade.
  Quem "apostou" em Brasília - e veio para cá com a intenção de trabalhar e estudar-  se deu bem. 
  Hoje, saiu uma reportagem na REVISTA VEJA. O grau de satisfação de quem mora aqui é grande.  
  Dificuldades? Nossa foram muitas nos primeiros anos. Mas, superamos todas.   
  Meus ancestrais em linha reta- tanto paternos como maternos- foram todos migrantes. De uma região para outra dentro de um mesmo país, ou mesmo para outro país .... Sempre em busca de "novas oportunidades". E, ninguém voltou para o local de origem, embora todos, sem exceção,  tivessem mantido os laços com suas "raízes".
  Acho que é isto que, para mim, faz a diferença na minha família, onde numa mesma mesa já se reuniram (e ainda reunem) cariocas, paulistas, mineiros, goianos, potiguares, paraibanos, brasilienses, portugueses e franceses. Todos acolhidos e respeitados em suas diferenças.  
  Pelo que eu pesquisei - nenhum dos meus ancestrais em linha reta nasceu e morreu na mesma cidade - em mais de 200 anos. 
Penso que isso  possa ocorrer nas próximas gerações (meus filhos e netos). Mas, só o tempo virá a confirmar minhas suspeitas, já que  estamos ainda na primeira geração nascida em Brasília, sendo ainda muito prematuro de minha parte afirmar que meus filhos não seguirão o mesmo caminho trilhado por seus ancestrais.... Afinal, um velho ditado diz que "filho de gato nascido no forno, não é biscoito. É gatinho!".

                                          
FOTO: MARLY MAYRINK

2 comentários:

  1. Bela reflexão Isabel! Creio que o mais fascinante é que, independente dos variados motivos, os objetivos foram alcançados e para muitos deu certo. Valeu Marly!!! Beijos a todos!!! Lalá.

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