Bom dia! Li recentemente o famoso livro "GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL", de LEANDRO NARLOCH. O livro é incômodo em sua ironia. Considero o "mergulhar na história", através do estudo, um embate infinito entre o que se conta e o que está realmente registrado em documentos. O que já é, por si, tarefa hercúlea. Mas, se considerarmos honestamente que nem só porque está documentado um dado fato é por si só verdadeiro... aí podemos considerar a tarefa de recompor a história realmente impossível. Não é preciso um encontro muito "íntimo" com os registros de todo tipo para saber o quanto são falhos e contaminados por uma miríade de fatores. Talvez menos do que nos relatos verbais passados de geração em geração, é lógico. Mas por isso mesmo mais graves, porque escondidos sob o selo da lei e pelos ares de sagrado que adquire a palavra escrita quanto mais o tempo transcorre entre ela e o fato/pessoa que descreve.
Isto posto, o que já instala o olhar crítico necessário a toda leitura, extraio aqui para vocês, do dito livro, duas questões bem interessantes, a meu ver.
A primeira delas diz respeito a questão da supremacia da língua portuguesa sobre o tupi. Vejamos. A história "oficial" diz que "São Paulo fala português a menos de três séculos. Antes, o idioma mais falado no Brasil era a língua geral, uma mistura de dialetos indígenas. Só com a proibição do Tupi pelo Marquês de Pombal, no século 18, é que o português virou a língua predominante". Mas o autor nos informa de que algumas "evidências históricas" levam hoje em outra direção. Aquela na qual "Apesar da grande influência indígena nos casamentos e nas alianças políticas, o idioma que venceu aquela mistura cultural foi o português. Assim como falar latim era um sinal de distinção social entre os europeus conquistados pelos romanos, os índios e os mestiços se esforçavam para falar português".
E é nesse ponto que eu queria chegar. A língua é ponto forte de identidade cultural. E a identificação, à longo prazo, entre povo dominado e povo dominador é inegável. Se é bom ou não? Moralmente condenável ou não? Debates filosóficos dos bons... Parece-me óbvio que o português se tornaria predominante a longo prazo, como se fato se tornou. E por vias "naturais". Tomando como "naturais" os inevitáveis da história humana, carregada de opostos.
Entretanto houve uma proibição formal de se falar o Tupi. E aí me lembro que também durante as enormes transformações politicas que a FRANÇA atravessou na transição século 18 para o 19 o occitan, língua falada a séculos e séculos na parte da França em que nossos bisavós viviam, foi proibida de ser falada a não ser no recesso de cada lar. Das escolas, esteve terminantemente banida. Tudo para unificar a FRANÇA também sob a "bandeira" da língua francesa tal qual conhecemos.
É certo que persistem na FRANÇA inúmeros e forte movimentos de manutenção do direito de conservar, ao menos culturalmente, essa língua ancestral do país de nossos ancestrais. A língua que falaram os trovadores e os cavaleiros de CARLOS MAGNO no tempo das CRUZADAS. E é aí que encontro a diferença básica entre o "grau de maturidade" de um povo em relação a outro. Só agora, "povo menino" que somos, estamos compreendendo pouco a pouco que nada deve ser "exterminado" de nossa história, com risco de nos tornarmos um "aleijão cultural": nem antigas línguas nem prédios históricos; nem vestígios pré-históricos; nem documentos, livros e bibliotecas que estejam sendo corroídos pelos cupins; nem livros de cartórios do interior guardados sob as asas gulosas de seus "notários hereditários"; nem a riquíssima tradição cultural indígena; nem a memória dos negros; nem a saga dos imigrantes todos...
O tempo, por si só, fará valer sua força, transmutando todos esses elementos. Não precisa de nossa ajuda através de decretos culturais proibitivos. Sejam de que gênero for.
Sejam todos muito bem vindos! Pretendo que seja aqui o nosso novo espaço de pesquisa, troca de idéias e informações.E não deixe de ler meu livro "DOUSSEAU: ENTER - FRANCESES NO IMPÉRIO DO CAFÉ".Você vai gostar! Abraços!
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Cara amiga estou cá, novamente, me intrometendo em seu blog, para comentar este artigo acima, muito interessante sobre o linguajar dos povos. De fato, a história nos mostra que o nosso português é diferente daquele da Coroa Portuguesa, por influencia, insistência e um pouco de rebeldia de nossos índios. O cinema brasileiro anda resgatando esse dialeto dos tempos do Brasil colônia, podendo ser verificado no filme “Desmundo”, com Osmar Prado e Simone Spoladore. Vale a pena conferir. Os dialetos dos povos da Europa também sofreram as influencias dos povos dominantes. Na França, especificamente na região de Aquitaine, a história conta que foi o Imperador Romano Júlio César que deu o nome a região durante sua Guerra Gaulesa, em 56 a.c.. Chamou os povos que habitavam a região de ibéricos, porém naquela época eles eram vascones descendentes dos basques, povos que deram origem, durante a Idade Média, ao reino de Navarra. Entretanto houve várias ocupações da região de Aquitaine, antes e depois dos romanos, como os povos germânicos e eslavos, nos tempos dos Francos, o que contribuiu para a formação de várias língua e dialetos tais como: gascão; limusine; auvergnat; languedociano; provençal; OCCITANA, de origem românica; euskera ou língua basca. Parabéns Marly, belíssimo artigo! Um forte abraço! Lalá.
ResponderExcluirVisita preciosa a sua, Lalá, mais uma vez! Obrigada! Vou já já caçar esse "Desmundo". Abraços e volte sempre porque a casa é nossa!
ResponderExcluirNão me parece óbvio que o português dominaria a longo prazo mesmo sem a proibição. Estou lendo o livro "Why do Languages Change?" e lá é contado como poderia não ser esperado que a língua inglesa predominasse nas ilhas britânicas, muito menos em todo mundo. O inglês teve que competir com a língua bretão, depois teve sua área de atuação restrita pela língua nórdica antiga de povos que dominaram grande parte da região, mais tarde tornou-se uma "língua de segunda classe" devido ao domínio dos normandos que impuseram o francês como língua da aristocracia, e também teve o latim que foi utilizado pelos intelectuais (as leis de Newton foram publicadas em latim). Ainda assim, a língua mais falada pelo povo acabou predominando.
ResponderExcluirQuando uma língua é declarada oficial, ele é utilizada pelo governo, pelas autoridades, as leis e os diários são publicados nela. É uma vantagem enorme. Muito mais quando as línguas concorrentes são proibidas.
Caro Leo,
ResponderExcluirAgradeço muito e fico realmente feliz por encontrar um leitor disposto não só a refletir sobre o que leu como também a compartilhar conosco essas reflexões. Muito obrigada e volte sempre!