quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

BONS LIVROS: "O LONGO CAMINHO DE OLGA".

     De Yolanda Scheuber, publicado pela Editora Novo Século em 2010, é uma leitura muito leve e agradável. A autora (Yolanda) se dispõe a contar toda a vida de sua avó imigrante, Olga. Uma saga que começa na RÚSSIA czarista e termina nos pampas argentinos. Pelo longo caminho, cheio de idas e vindas, de sua família, passamos junto com ela pelo CANADÁ e pelo BRASIL.
     Lendo biografias de imigrantes e seus descendentes, gênero que amo de paixão, acabamos sentindo a "vertigem" que atingiu o mundo inteiro no final do século XIX, por múltiplos e variados motivos. Vertigem essa que teve vários nomes, conforme a realidade de cada país do velho continente  (fome, guerras, opressão política ou religiosa, phyloxera e outras pragas...etc) mas que, seja qual for o nome dado, espalhou pelo "mundo novo" (BRASIL, ARGENTINA, CANADÁ, EUA, AUSTRÁLIA, etc..) uma parte considerável do "velho mundo" (ITÁLIA, FRANÇA, ESPANHA, PORTUGAL, ALEMANHA, LÍBANO, SÍRIA, CHINA etc...etc...etc...). Até mesmo da velha RÚSSIA, como apreendemos nesse livro.
     Recomendo a leitura mas, só para dar água na boca de vocês, deixo uns pequenos trechinhos...


                      "Contudo, que liberdade quis nos dar meu pai? A liberdade de um solo fecundo,
            mas que deixa a alma inconsolável quando são perdidos os afetos? A liberdade de 
            poder viver longe de casa, preservando-nos da guerra e da morte, mas lamentando a cada 
            instante o que perdemos ao partir? Com o passar dos anos, compreendi que aquela       
            liberdade tão sonhada havia me deixado sem raízes e sem afetos. A liberdade buscada 
            havia me deixado sem a liberdade de poder pertencer e permanecer dentro de uma 
            família. Minha família. Nunca soube o que passou pela cabeça de meu pai naqueles
            anos. Sempre ignorei tudo. Nunca me atrevi a perguntar e ele nunca pôde abrir seu
            coração e expressar seus sentimentos. Creio que para ele era muito difícil mostrar que 
            sofria por isso, e que atrás dessa imagem de força talvez se ocultasse um coração 
            atormentado. Atormentado pela força de um destino que nenhum de nós tinha a 
            capacidade, ou a possibilidade, de se desviar.
                        A força da história pode tudo e contra isso nenhuma civilização humana pôde
            lutar. O destino coletivo se precipita sem que nada possa ser evitado. Somente as 
            pequenas coisas, as cotidianas, podem ser influenciadas por nossas atitudes, mas a 
            força descomunal do destino da humanidade parecia já estar escrita.
                       Meu destino já estava escrito nas estrelas do céu. Eu não sabia, mas o roteiro
            que eu seguiria já estava traçado nos desígnios que iam se perfilando como um código e
            eu não era capaz de perceber". PÁGINA 51

                       "Há algo indescritível, muito mais do que possamos imaginar, em pessoas que 
            têm o mesmo sangue que nós. É a bendita sensação de saber que não estamos sós no
            mundo, que há um exército de pessoas com nossos mesmos genes, com nossos mesmos
            laços de afetividade, que também estão transitando por algum lugar do planeta e que, ao 
            encontrá-las, causam uma conexão luminosa". PÁGINA 52

                       "As pessoas não deveriam sair de sua terra ou país. Não à força. As pessoas 
            ficam desarraigadas, tristes, doloridas, porque o desterro não anula a memória, a língua, 
            as cores  ou as recordações. Somos arrancados e temos de aprender a viver em terra 
            estranha". PÁGINA 113

                      "Meu pai decidiu vender a granja e todos os animais. Outra vez voltaria a guardar 
            nos doze baús as poucas coisas que definitivamente compunham  nosso lar, porque, depois
            de tantas viagens, havíamos acabado de nos desapegar de todas as recordações palpáveis
            em objetos materiais que pudessem nos reter. Nada o prendia a nada, sequer seus filhos".  
            PÁGINA 138

                      "Naquela época descobri que trabalhar para si, para sua família, não é a mesma 
            coisa que trabalhar para outros proprietários de terras. O sentido deve ser semelhante, 
            mas o prazer do coração é imensamente maior, e as coisas se tornam mais leves, embora
            extremamente pesadas. Os passos se tornam mais ligeiros ainda que tenhamos que 
            caminhar pelos campos arados, e a alegria brilha nos olhos, ainda que a poeira do vento os
            torne embaçados, porque estamos construindo o nosso destino, e quanto mais felizes 
            estamos, mais promissor parece ser o futuro". PÁGINA 181.

Tudo isso não nos parece familiar, primos? Com certeza sim! Abraços!

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